PSVita
Fui ao dentista naquela manhã. Era um tratamento complicado e, embora ele já estivesse no fim, eu sentia dores e tinha o rosto um pouco inchado. Ao chegar no consultório a atendente com um sorriso simpático, pegou meus documentos e ofereceu-me um assento nas cadeiras defronte ao balcão.
Nesse instante, entrou, no recinto, a mãe com seu filho de cinco anos.
Eu soube porque quando a moça da recepção fez a ficha dele, o garotinho mostrou a mãozinha com os cinco dedinhos bem alinhados.
- Moça, eu fiz cinco anos e ganhei um PSVita.
Que diabos era aquilo? Um PSVita! Comecei a tentar buscar palavras para aquela sigla. Talvez fosse "Pequeno Ser Vital" ou "Palavras Cruzadas Vitaminadas" ou quem sabe "Para Se ter Vitalidade"... Fui divagando na tentativa de descobrir o grande segredo, me esquecendo da dor incômoda e da demora na sala de espera.
O garotinho, sentado ao meu lado, tinha os olhos grudados na tela de uma espécie de celular onde os polegares nervosos apertavam comandos silenciosos. Enquanto isso a mãe papeava distraída com uma outra paciente.
Observei a cena. O menino nem piscava. O som do aparelho ecoava pela pequena sala, mas ninguém parecia se importar.
Fiquei pensando se um menino de cinco anos vai ao dentista, é porque tem cáries ou então só para prevenção mesmo. Ah... Nessa hora, saquei: "Prevenção e Saúde Bucal Vital"... Mas a sigla não tinha um B. O fato é que o garoto ganhou o PSVita após completar cinco anos e estava ali. Olhava o moleque; ele lá. Nem parecia se importar com o dentista que ia em instantes visitar.
- Menino de sorte, pensei! Pais cuidadosos. Desde cedo, frequenta o dentista. Um hábito que na minha época de criança não era comum. Deu no que deu. Um canal que deu pano pra manga!
Mas como tudo evolui, tudo muda para melhor, lá estava ele, esperando calado, entretido com o aparelho, provavelmente da mãe, que distraída trocava receitas com outra mulher.
- PSVita... Essa charada eu não desvendei...
Nessa hora, abriu-se a porta do consultório. Dr. Ivanir me sorriu e disse animado:
- José Carlos, hoje estou um pouco atrasado... Mas já, já vou lhe atender. Deixe-me ver rapidinho a boca do Pedrinho...
A mãe se levantou, passou pelo menino que ainda estava vidrado na telinha e gritou:
- Venha, Pedro Henrique!!! Traga o seu PSVita!!!
Olhei, meio sem graça, para a recepcionista. Pensei com meus botões... A dor faz a gente ficar meio fixado. Como nem percebi que era um jogo? A mãe da criança deu o presente para ficar mais descansada... Que cuidado que nada!
Cláudia Machado
2/5/18