João trabalhador
João trabalhador
João desce a rua gingando. Não é proposital o balançar do corpo. É que ele bebeu duas cerveja e uma pinga. Gostaria de ter bebido mais. O fígado acostumado adoraria um pouco mais de álcool, mas quinze reais é pouco. Não dá para satisfazer a vontade do órgão alcoólatra. E mesmo esses quinze reais João trazia escondido há dias. Se a esposa tivesse descoberto essa pequena fortuna teria ido antes dele a mercearia e comprado as bobagens que algumas mulheres têm mania. Massa de tomate, maionese, Knorr. Essas coisas foram feitas para rico. João ficava nervoso com esses exageros. Foi criado sem essas modernidades. Sua mãe sempre cozinhou muito bem com os ingredientes que tinha a mão. Quem sabe cozinhar não precisa dessas invencionices que custam caro.
A cabeça de João está leve. Hoje tem o dia para si. Não precisa preocupar -se com o trabalho, comer comida de marmita, ir e voltar para casa em ônibus lotado. O homem trabalhador bebeu sua carraspana. Agora é almoçar, deitar, e tirar o cochilo dos justos. Afinal primeiro de maio é para descansar. Esvaziar a cabeça. Esquecer momentaneamente que trabalha de segunda a sábado e que sempre sobra mês e falta salário.