(Na) Escuridão Perdida
Hoje meus olhos fundiram-se aos da multidão que contemplava o que restou do prédio destruído pelas chamas (Centrão de SP). Foi um momento histórico -- malgrado desgraçadamente infeliz -- para os que vivem em SP. Marcou (de modo indesejável e desolador) nossa época e muitas vidas que passam por ela, já sem muita sorte e esperança. Foi um momento único ser observador de ruínas reais, monumento à negligência do sistema responsável pela manutenção das habitações antigas, espalhadas pela Cidade Paulistana. Monumento igualmente representativo ao descaso e ao desprezo humanos. Um monumento erguido pela desconstrução (nenhuma relação com a proposta derridiana, NÃO), numa relação paradoxal, do tipo poesia do apocalipse. Vidas Perdidas procurando s'encontrar. São Paulo chora. São Paulo agoniza em nome das vidas que ora se foram e das que porventura deverão recomeçar de outro ponto. Do nada. Outra coisa que muito me chamou a atenção foi o trânsito na Av. São João fluindo normalmente, com transeuntes alheios ao cenário de desintegração e dor ao fundo. Um dia após a tragédia que enegreceu uma parte da história da Metrópole. O fogo ainda arde muito. Mas dessa vez é pior. Porque permanece aceso nas lembranças das vítimas vivas. E de quem viu de perto. Ao invés de fazer ver, a luz desse fogo cegou e ceifou vidas e corações.
Queiram perdoar esse registro chato. Mas nem sempre uma crônica deve falar só de assuntos agradáveis e felizes. Não. É preciso lembrar que há muito por ser re-feito. Que estamos andando numa fase de trevas. Sem luz suficiente para nos confortar. Todavia, há outros Amanhãs aos que sobrevivem.