Noite cinzenta cai sobre a cabeça do homem traído.
Tinge de negrume a memória de suas lembranças
e faz dos sonhos desfeitos um pesadelo.
Ele finge que não doí e sofre e chora e morre de paixão. Fernão suou frio. Sua alma pôs-se a fazer caminhos diversos nos versos quebrados do amor dividido. Precisava desabafar, contar para o papel as dores do coração. Doía ser fingidor, embora fosse necessário fingir que não doía, a dor que sentia, doía demais no coração.
Escreveu.
Rabiscou. Encheu a lixeira com papel amassado. Fez uma faxina. Limpou a represa e a chaminé. Lançou fora o cobertor de problemas que envolviam o coração. Percorreu a casa, conferiu cada cômodo. Seu coração batia acelerado.
Vieram-lhe lembranças do tempo de menino, quando seu pai quis registrá-lo com o nome de Gagarin, por desejar que o filho viesse a ser tão famoso quanto aquele primeiro astronauta a orbitar a Terra.
A mãe protestou: “Não quero mais um ateu dentro de casa!” E resposta do pai que só adiou a discussão. “ Não vamos brigar por isso. Fernão é o nome dele.”
Fernão cresceu em estatura, mas a idade mental, não passava dos seis anos. Abria a torneira e ficava vendo o riacho escorrer na ardósia. Depois, punha fim ao dilúvio, desligando a água, para não afogar uma formiga que passava. Ele era diferente. Tinha olhar distante e desatento aos estímulos externos, parecia viver alheio ao mundo dos falantes. Até certo ponto, era perfeccionista, criterioso naquilo que gostava de fazer. Conversava com seus brinquedos e achava que eles eram capazes de obedecer às suas ordens de comando.
Apaixonado por navegação, o pai de Fernão mantinha em casa um tesouro em réplicas da navegação e da aeronáutica. Aprendera a brincar, desafiar os perigos, nas grandes fantasias da imaginação, com o intento de ocupar a emente do filho. Fizera até uma miniatura do 14BIS, com motor movido a metanol e divertia-se controlando da terra aquela engenhoca como se fosse Santos Dumont sobrevoando a torre Eiffel. Temendo reprimenda da mulher, Yuri guardou a sete chaves a certidão de nascimento do filho. O varão tinha nome de gente famosa: Fernão de Noronha Capelo.
***
Leia também do autor Adalberto Lima: Tinge de negrume a memória de suas lembranças
e faz dos sonhos desfeitos um pesadelo.
Ele finge que não doí e sofre e chora e morre de paixão. Fernão suou frio. Sua alma pôs-se a fazer caminhos diversos nos versos quebrados do amor dividido. Precisava desabafar, contar para o papel as dores do coração. Doía ser fingidor, embora fosse necessário fingir que não doía, a dor que sentia, doía demais no coração.
Escreveu.
Rabiscou. Encheu a lixeira com papel amassado. Fez uma faxina. Limpou a represa e a chaminé. Lançou fora o cobertor de problemas que envolviam o coração. Percorreu a casa, conferiu cada cômodo. Seu coração batia acelerado.
Vieram-lhe lembranças do tempo de menino, quando seu pai quis registrá-lo com o nome de Gagarin, por desejar que o filho viesse a ser tão famoso quanto aquele primeiro astronauta a orbitar a Terra.
A mãe protestou: “Não quero mais um ateu dentro de casa!” E resposta do pai que só adiou a discussão. “ Não vamos brigar por isso. Fernão é o nome dele.”
Fernão cresceu em estatura, mas a idade mental, não passava dos seis anos. Abria a torneira e ficava vendo o riacho escorrer na ardósia. Depois, punha fim ao dilúvio, desligando a água, para não afogar uma formiga que passava. Ele era diferente. Tinha olhar distante e desatento aos estímulos externos, parecia viver alheio ao mundo dos falantes. Até certo ponto, era perfeccionista, criterioso naquilo que gostava de fazer. Conversava com seus brinquedos e achava que eles eram capazes de obedecer às suas ordens de comando.
Apaixonado por navegação, o pai de Fernão mantinha em casa um tesouro em réplicas da navegação e da aeronáutica. Aprendera a brincar, desafiar os perigos, nas grandes fantasias da imaginação, com o intento de ocupar a emente do filho. Fizera até uma miniatura do 14BIS, com motor movido a metanol e divertia-se controlando da terra aquela engenhoca como se fosse Santos Dumont sobrevoando a torre Eiffel. Temendo reprimenda da mulher, Yuri guardou a sete chaves a certidão de nascimento do filho. O varão tinha nome de gente famosa: Fernão de Noronha Capelo.
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- Lagoa azul ( texto reeditado)
- Clara e Francisco(miniconto)
- ILHA DO MEDO
O VÉU DO TEMPLO
PEGADAS NA AREIA
- Vendilhões do templo
- O FANTASMA (suspense)
- A paisagista
O canto da sereia - história de amor
Passageiro da agonia II
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Adalberto Lima, fragmentos de "Estrela que o vento soprou."
Imagem Google