Um Mundo Digno

 

            Perdoe se pareço presunçoso, sinto, por vezes, que sou um dos últimos de uma casta de homens que acredita que as coisas podem ser diferentes.

            Tenho muitas crenças positivas.

            Sei do valor da decência.

            Muitos a desprezam, como se fosse uma demência, uma peça de móvel ultrapassada a ser corroída na poeira dos tempos.

            Leio muitos textos, e livros, e poemas, incrustados de palavrões.

            Qual o luxo do palavrão?

            Faz parte da cultura atual, encontra-se além do bem, e do mal?

            Li a entrevista do João Doria Júnior e ele disse que não usa palavrões.

            O que faz quando martela o dedo? Ai, que lindo!

            Sei que há a hora, o jeito e o momento.

            Mas não precisa ser agora, no meio dessa crônica.

            Usamos mal o poder da palavra, mas não falo só da literatura.

            Caminho pelo mundo e sinto um vento de vulgaridade. Será verdade? Ou será que o vulgo apenas é melhor de marketing?
            Não quero ser um puritano, eles têm o hábito de se transformar em hipócritas e tropeçam nos próprios equívocos.

            Ainda acho bonito o namoro nas praças, a risada leve, o filme bem feito, o livro escrito de modo formal, valorizando a língua, o estilo e a forma.

            Sei que temos muitos progressos no mundo de hoje: o que eu faria sem a internet?

            Creio que nasci alguns anos depois, sinto falta de novos valores, ou dos velhos sob outra forma.

            Alguém um dia me acusou de ser por demais crédulo, outro de ter fé, um de ser ingênuo.

            Todos devem estar certos.

            Por isso acho que estou sozinho, visualizando um mundo que não existe, desejando que a história seja diferente, mas não é.

            Sei que deve haver mais gente descente, indignada, inconformada. Só gostaria que se manifestassem mais, que gritassem mais, que se indignassem mais.

            Enquanto espero pela revolução do espírito, que nos tornará melhores, escrevo sobre o mundo que vejo, mesmo que tenha que usar palavras de baixo calão conforme os personagens se revelem, para que os homens do futuro olhem para essa época e se espantem e, espantados, nos esqueçam no passado...