Sou Exótico Também
Sentado diante da mesa do Café Bar eu via as pessoas passarem e comecei a varrer as suas características. Somente dados externos seriam capazes de serem analisados. Eu não poderia imaginar o caráter de cada ser que cruzava com o outro e ignoravam-se pela presença de alguma coisa que da vitrine os chamavam; um vestido, um calçado, uma calça, um eletro ou até mesmo uma cilada.
Inúmeros tipos exóticos chamavam a minha atenção: uma senhora de perna arcada exibia uma calça cenoura; um jovem magro de aproximadamente dois metros de altura, de nariz grande bastante afilado, pescava siri e a tiracolo carregava uma bolsa Gucci; uma garota de cabelos lisos vermelhos lembrava Cyndi Lauper quando cantava irreverentemente um blues; um casal fazia caras e bocas empurrando o carrinho do bebê que sorria das graciosas caretas emitidas pela avó; um japonês obeso segurava as mãos de uma linda mulher e exibia um contraste platônico imposto pela nossa sociedade; o anão que usava um tênis de marca e camiseta estilo “Mamãe Tô Forte” beijava a bela e elegante namorada em frente ao caixa; o atleta aposentado passava sem ser notado; o grupo de escapadas meninas davam risadas do nada; uma mulher solitária procurava apenas artigos para sustentar sua beleza. Eram várias as situações e eu, diante da mesa, esperava alguém.
Olhei-me e vi que eu era um senhor de um metro e noventa e seis de altura de pernas arcadas, que adorava o Blues, que sempre carregava a minha sogra para o Shopping, que casara com uma linda mulher, que usava tênis Puma, um ex-jogador aposentado, um homem que buscava apenas palavras e que também havia dado uma escapada.
"Sou Exótico...".