O Primeiro Voo
Uma ave columbina invadiu a residência de um casal que viajava em lua de mel. Fez um ninho com palhas colhidas do quintal e ao chocar o seu único filhote, preparava-o para o primeiro voo.
Ao lado de fora da casa residia Kira, uma cadela bebê labrador, que destruía tudo que via pela frente e diariamente recebia a visita da empregada com sua dose de ração e água.
Para Kira tudo era novidade: o ronco dos carros, os gritos dos moleques caçadores de pipas, o som das músicas eletrônicas do vizinho, tudo era motivo para que houvesse saltos e latidos.
A rolinha filhote estava atenta ao que o instinto lhe preparava e esperava apenas a oportunidade de saltar e voar apreciando a beleza dos campos, contudo ambas estavam presas na casa.
Ao entardecer Maria surgiu na porta da sala com o kit de limpeza em uma das mãos e a comida na outra, era a hora da faxina, o momento de deixar o ambiente canino limpo e desinfetado. Era também a grande chance do pássaro e quando a porta da rua se abriu, a pequena cria se lançou aos ares a buscar sua liberdade absoluta e desordenadamente caiu. Suas asas não suportaram o seu peso e o mecanismo propulsor falhou a deixando no caminho de Kira que inocentemente a pegou pelas penas e parcialmente a despenou como se fosse uma peteca de criança.
Aos gritos de socorro, Maria conseguiu resgatar da boca da gigante cachorra a pequena columbina assustada, que apesar de estar desfalcada de algumas de suas penas fazia um enorme esforço para se livrar daquele assustador animal. Fora frustrado o seu primeiro e mais importante voo.
As mãos da mulher que a salvara eram macias como se fosse um ninho de plumas e quentes como o afago columbino e a transportou para o jardim da casa para que ela pudesse ali se regenerar, mas ao colocá-la na relva não imaginou o perigo que ela passaria, pois oferecera ao gatuno noturno um delicioso jantar.
O carnívoro animal se aproximava da frágil presa e ao dar o bote fatal, o propulsor abastecido a impeliu para frente com rapidez e elegância proporcionando um lindo voo, admirado por Maria que tentava mais uma vez salvar aquela avezinha.
Voar é um privilégio para poucos, é necessário força para que possamos sustentar o peso de nossas asas para escapar dos predadores.