A Barata e a Prostituta
Resolvi dar um passeio e ao ver a luz, dei de cara com uma mulher que se maquiava em frente ao espelho e cantarolava em voz baixa monossílabas palavras, se preparando para mais uma rotina profissional durante a noite. Seria mais um dia que eu me arriscaria nesse mundo consumista, mas o ambiente era propenso a minha alimentação e poderia saciar a minha fome.
O ser que se embelezava não percebia a minha presença enquanto eu degustava de seus preciosos pelos caídos pelo chão. Seus saltos ora raspava em minha cabeça, ora se distanciava ao equilibrar aquele corpo escultural frente ao reflexo de seu lindo rosto. De repente um grito agudo estrondoroso o colocou em cima da pia e a criatura não parava de esgoelar:
- Uma barata!
- Socorro!
O som do Funk de um dos vizinhos abafava o seu pedido e o sentimento acachapante de medo e ansiedade consumia aquela linda mulher que desperdiçava sua maquiagem nas lágrimas corridas em seu rosto. Eu fiquei observando toda aquela cena por várias horas e vi a dessemelhança entre nós: lembrei que sou imune a radiação, meu sistema nervoso traduz os impulsos elétricos que me dão a informação precisa da direção do ar. Desse modo, sei exatamente para onde escapar de ameaça, minhas antenas captam moléculas de cheiro, passo semanas sem me alimentar e:
-Levei uma Chinelada!
“Em fandango de galinha, barata não se mete.”