O Instinto Animal
O telefone toca: - Amor! Tive um livramento.
- Mas o que aconteceu?
- Sabe aquela casa de marimbondo que tem na nossa garagem.
- Não, eu nem sabia que existia a tal.
E Alice desesperada descrevia:
- Amor! – Eu fui remanejar as madeiras da estante e sem querer futuquei a casa deles.
- Aí eles me atacaram, fiquei encurralada e corri, corri, corri, corri.
- Não exagere
- Amor! Eu juro! – Já chamei o Corpo de Bombeiros e fui informada que o atendimento só pode acontecer à noite.
E descobri que o pânico era real. Tratei de acalmá-la dando-lhe apoio e a certeza de que ao chegar ao lar eu tomaria as providências necessárias para exterminar aquele bando de ferozes insetos. Ao chegar a minha casa fui ao local e lá estava o enxame ao redor da minha relíquia, uma máquina de datilografia dos anos sessenta que eu guardava para decorar um possível espaço do meu escritório. O telefone tocou e uma voz feminina agendava o atendimento de socorro para a noite e solicitava que eu os acompanhasse no processo de eliminação das vespas. À noite, começou o processo de extermínio. Foi utilizada gasolina para atraí-las e o gás CO2 para combatê-las e levá-las ao estado de gelo seco.
Alice, feliz, sugeriu que no dia seguinte eu fizesse uma limpeza no local retirando a estante e todas as miscelâneas que compunha o ambiente. Ela acordou cedo e me induziu a realizar a tarefa. Enquanto eu iniciava o processo, minha esposa se dirigia ao salão de cabeleireiros. Ao desmontar a primeira parte da estante, observei um único sobrevivente vindo em minha direção com suas antenas afiadas preste a me atacar. Desviei do inseto e com um drible de corpo tentei atacá-lo com a chave de fenda. É claro! Não obtive êxito em acertá-lo, porém ele se distanciou da minha presença. Continuei com o trabalho de desmonte e novamente meus instintos me avisaram a presença daquela insistente criatura ao ataque. Mais uma vez consegui desvencilhar do solitário vingador e entendi que sofreria inúmeras picadas como retaliação ao ataque fulminante a sua espécie.
Eu precisava dar um fim à situação e avistei um sombrero empoeirado entre as bagulhadas e armei-me contra o adversário insistente que veio ao meu encontro com tanta sede que não percebeu o tamanho da aba daquele chapéu mexicano que me serviu apenas para vencer a “Batalha da Garagem”.
“Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra?” Eclesiastes 3:21.