As Invasões

Cavou uns buracos, fincou os tocos e surgiu o seu barraco, pioneiro da nova comunidade que antes era um asilo de velhos. Foram surgindo vizinhos tapando a natureza, deixando-lhe apenas a visão do céu, o que o iluminava, livrava-o.

Os cães ladravam na madrugada pela chegada rumorosa dos consumidores da massa, os gatos espalhados alimentavam a claridade dos becos e na frente da sua maloca uma saideira de estrondoso som.

Horas depois, os raios do sol penetravam pelos orifícios das telhas e despertava nele o sono atrasado. Ouviu ruídos de motor de caveirão, mas eram dragas escavadeiras que invadiam o terreno ao lado e iniciavam a construção de um grande empreendimento. Todos os moradores se aproximaram do local e constataram que naquele lugar surgiria um conjunto de moradias denominado “Condomínio da Pedras”, nome apropriado ao lugar que tinha como origem o nome : “Comunidade Pedra Rasa”.

Passaram-se alguns meses e as paredes de alvenaria davam formato a belas casas e restavam apenas as aquisições. O tempo era paciente e ninguém com poder aquisitivo teve interesse pelo imóvel e a ociosidade do condomínio os convidava a entrar e desfrutar da mais encantadora mansão jogada em suas mãos. Bastava apenas uma convocação e logo alguém determinara que o caminho estivesse livre para o consumo.

Concretizou-se uma invasão comandada pelo desconhecido e carregada pela emoção de sentir o concreto aquecer o seu sono, invadiu.

Não era a realização de um sonho, Helicópteros da Segurança Nacional, Os Caveirões, o Batalhão de Choque, A televisão e os oficiais do poder judiciário cercaram o seu aconchego e ele partiu ...

“Não devemos desejar de forma desordenada o que não se tem, principalmente o que pertence ao próximo. “