Os Interesses do Castelo
Os Interesses do Castelo
Pingo andava em volta do palácio à procura de alimento, peregrinava pelas ruas enfrentando o frio da madrugada. Durante o dia, o calor do betume o deixava às vezes de língua de fora, mas a natureza saciava a sua sede com tempestades passageiras que enchiam lagos e valas.
Pedro era um obreiro que havia sido requisitado pela corte para reformar o castelo e certo dia encontrou Pingo em estado moribundo atravessado em seu caminho e o levou para casa. Começara então uma grande amizade, apesar do paradoxo da razão e da emoção dos dois seres. Pingo sentia-se protegido e Pedro se preocupava apenas com a obra de restauração que propusera fazer a serviço do rei.
Ao caminhar em direção ao paço para dar continuidade ao seu trabalho, percebeu que algo o seguia fielmente e deparou com aquela criatura alegre que corria em sua direção lhe pedindo para escoltá-lo. Pedro sorriu, era impossível recusar, seria desumano enxotá-lo.
Abriram-se as portas do palácio e a rainha os recebeu de forma insegura, porém aceitou a presença do companheiro. A arte era desenvolvida magnificamente e elogios eram vindos de toda a parte, entretanto, a presença do amigo fiel incomodava a rainha que andava muito ocupada pela presença de inúmeros ratos que atazanavam a cozinha. Pingo movido apenas pelo instinto movia-se pelos cantos do ambiente deixando todos curiosos. A primeira dama não resistiu todo aquele movimento irracional e logo o tratou de expulsá-lo:
- Fora daqui, suma da minha frente.
Seus gritos foram ignorados e Pingo não desistia do seu propósito:
- Pedro!
- Mande embora este seu amigo!
- Agora!
O artesão que apenas observava, respondeu:
- Ele é um grande caçador, ele acabou com todos os ratos que tentaram invadir a minha casa.
A monarca, que estava no limite de sua tolerância, vestiu as sandálias da humildade e fez um convite:
- Fica meu cãozinho!
- Não vá!
- Mora com a gente!
Pingo tornou-se príncipe, não come mais carnes murinas, degusta das melhores rações, possui plano de saúde Dog D’or e ai daquele que tentar invadir os aposentos de sua dona: “ A Poderosa Imperatriz”.
“O homem age de acordo com seus interesses, defendendo-os com a posse e a propriedade das coisas, visando não só a dominação, mas para evitar-se que seja dominado.”