O LUAR.
A dama da noite brilhava resplandecente no véu escuro, dançava com as estrelas, cintilavam de alegria brincando e desfilando entre elas, era um espetáculo a céu aberto, e da janela do quarto eu apenas contemplava toda a cena. A luz do luar estava intensa naquela noite, tanto que, sua claridade iluminou todo o quintal da minha casa, fiquei encantado com tamanha beleza estendida em um céu tão estrelado, um número imenso de pequenas luzes piscando aqui e ali, todas olhando para mim, como se estivesse acenando, coisa linda de ver. Não há beleza maior para uma noite escura do que um céu repleto de estrelas, da janela do quarto eu era apenas um espectador boquiaberto, preso nos pensamentos mais banais.
Aquela noite refletia no meu olhar muitas outras noites do meu passado, lembranças esquecidas no baú da memória. Como é bom ter boas lembranças, quantas foram às vezes que o sereno da noite e o olhar atento da coruja, foram as testemunhas
silenciosas de minhas lágrimas madrugada afora, mas a noite de hoje está um pouco mais fria, o gelo da brisa me força a fechar um pouco minha janela, deixando apenas uma pequena fresta, enquanto novas lembranças surgem a todo o momento, quantas histórias esse mesmo luar presenciou, quantas lágrimas de amor refletiram a sua face brilhante, quantos versos foram escritos, versos de loucos poetas, inspirados por loucuras de amor.
Este mesmo céu de infinitas estrelas, sentenciou já faz alguns anos, o destino de certo poeta desventurado. Se bem me recordo foi no penúltimo dia de novembro, eu ainda consigo ver aqueles olhos lacrimosos na tela da minha memória, a dor daquela alma não pode ser descrita com palavras, por mais que eu tente, nunca conseguirei expressar com palavras àqueles momentos.
As lembranças são teimosas e constantes em meus pensamentos, é um fantasma que sempre me persegue, por maior esforço que faço para esquecer-me daqueles episódios, não consigo, basta apenas contemplar o luar e todas aquelas recordações se afloram no coração, rasga o peito em uma dor latente.
Já era alta hora da madrugada, o luar se arrastava com lentidão pelo véu negro da noite, o frio se intensificava e o vento se fazia mais forte agora, eu permaneço na mesma posição, observando o nada no silêncio absoluto daquele momento, na rua não há barulho de veículos e nem pessoas, tudo é silêncio, nem parece à mesma rua do fim de tarde. Meus pensamentos continuavam perdidos em meio às lembranças, algumas boas, outras ruins; algumas recentes, outras antigas, todas transitando na tela imaginária que se formou no meu pensamento, eu resisto ao sono, a noite é apenas uma criança diante de mim.
Quando me dou conta do horário já passa das duas horas da madrugada, a lua declinava no horizonte escuro, enquanto na rua surgem os primeiros transeuntes, ébrios cambaleando pela calçada, e lá estava eu, com o meu olhar atento, frio intenso, a janela novamente aberta, eu sou um amante da lua, um poeta das madrugadas, procurando no escuro suas doces palavras, até que de repente, meus olhos são vencidos pelo cansaço, se rendem finalmente; desejando a maciez do travesseiro, e a pele calorosa e perfumada do anjo ledo, afinal, já passou da hora de dormir. Eu sou apenas um poeta sonhador, a luz do luar, em uma madrugada fria e silenciosa.