Transeuntes num vaivém vão, outros vêm. Apressados, correm. Seguem assustados. Aflitos como galinha em território de gavião. O trem metropolitano parece parado na estação. Vultos velozes de homens e de mulheres passam voando, penduradas como blusas em movimento. Não dá tempo de reconhecer as bonitas que se misturam com as dentuças, banguelas, brancas, pardas, e amarelas... Homens de toda estatura: sérios, grandes, pequenos, negros e branquelos, corados, e amarelos. Boas e más criaturas voam vestidas de muitas cores e etiquetas: panos finos ou grosseiros guardam mulheres, homens e meninos, em suas etiquetas. Famosas e também as baratas compradas na feira livre viajam no metrô. Gente que tem pressa de chegar, outros tardios. Lentos corsários tomam de assalto uma presa. Apressados leopardos, trombam na calçada. Na plataforma é o trem que corre nos trilhos levando mulher, marido e filho nem sempre para o mesmo lugar. O trem chia, chegado. Fernão ocupava uma cadeira no primeiro vagão. Ravenala desembarca na Estação Carioca. O passageiro segue viagem. Nunca lhe dirigira a palavra senão, quando a perna da moça ficou presa no vão entre a plataforma e o trem.
—Você se machucou?
—Não, não. Apenas arranhões...
—Mas está sangrando...
—Sangra pouco.
Passou o número do telefone, anotado em um pedacinho de papel retirado da agenda. Acompanhou-a com o olhar e despediu-se, tão logo o enfermeiro limpou os ferimentos e entregou a ela um pacote com mercúrio e algodão: ‘Repita este procedimento amanhã. Não é nada grave, requer apenas higienização, uma vez por dia. ’ Ela desejou vê-lo novamente. Não o enfermeiro. O passageiro cortês e delicado que a socorreu. Seria como encontrar uma agulha no palheiro. O Rio de janeiro é grande e movimentado em qualquer estação.
Pôs a melhor roupa, soltou o cabelo, passou maquiagem e ligou para o número recebido. O celular tocou, até cair na caixa postal. Apressou-se para pegar o metrô e ocupar o primeiro vagão. O trem chiou a um palmo de distância de seus pés. Lembrou-se da perna presa no vão da plataforma e entrou com cuidado. O primeiro vagão estava cheio de gente vazia, duas velhinhas conversavam em pé, porque as cadeiras reservadas aos idosos estavam ocupadas por jovens, que sorriam zombeteiros. Muitas pessoas penduradas nas barras de ferro disputavam um lugar para colocar as mãos. Olhou atentamente. Com certeza, não era ele. Aquele homem não usava terno. Não era, portanto, o cavalheiro que a ajudara no dia do acidente na plataforma.
Letreiros do túnel passam em película acelerada. O maquinista puxa as rédeas do cavalo de ferro e aos poucos, a máquina perde velocidade. É nova estação.
***
Leia também do autor Adalberto Lima:
- Lagoa azul ( texto reeditado)
- Clara e Francisco(miniconto)
- ILHA DO MEDO
O VÉU DO TEMPLO
PEGADAS NA AREIA
- Vendilhões do templo
- O FANTASMA (suspense)
- A paisagista
O canto da sereia - história de amor
Passageiro da agonia II
Adalberto Lima, Adalberto Lima, trechos de "Estrela que o vento soprou."
—Você se machucou?
—Não, não. Apenas arranhões...
—Mas está sangrando...
—Sangra pouco.
Passou o número do telefone, anotado em um pedacinho de papel retirado da agenda. Acompanhou-a com o olhar e despediu-se, tão logo o enfermeiro limpou os ferimentos e entregou a ela um pacote com mercúrio e algodão: ‘Repita este procedimento amanhã. Não é nada grave, requer apenas higienização, uma vez por dia. ’ Ela desejou vê-lo novamente. Não o enfermeiro. O passageiro cortês e delicado que a socorreu. Seria como encontrar uma agulha no palheiro. O Rio de janeiro é grande e movimentado em qualquer estação.
Pôs a melhor roupa, soltou o cabelo, passou maquiagem e ligou para o número recebido. O celular tocou, até cair na caixa postal. Apressou-se para pegar o metrô e ocupar o primeiro vagão. O trem chiou a um palmo de distância de seus pés. Lembrou-se da perna presa no vão da plataforma e entrou com cuidado. O primeiro vagão estava cheio de gente vazia, duas velhinhas conversavam em pé, porque as cadeiras reservadas aos idosos estavam ocupadas por jovens, que sorriam zombeteiros. Muitas pessoas penduradas nas barras de ferro disputavam um lugar para colocar as mãos. Olhou atentamente. Com certeza, não era ele. Aquele homem não usava terno. Não era, portanto, o cavalheiro que a ajudara no dia do acidente na plataforma.
Letreiros do túnel passam em película acelerada. O maquinista puxa as rédeas do cavalo de ferro e aos poucos, a máquina perde velocidade. É nova estação.
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