Era só um menino...
O sol estava a pino. Caminhava atravessando a praça quando um moleque me parou.
- Moço, tem um trocado?
Meus bolsos estavam vazios mas tinha uma bala e um chiclete que recebi de troco na padaria. Meti a mão no bolso e os ofereci ao menino. Ele me olhou sem jeito, agradeceu com um sorriso amarelo, pegou o doce pôs na sacola e disse:
- Minha mãe pediu para levar o leite para o Fabinho.
Senti uma vergonha do meu gesto, atravessei a rua com ele e entramos na padaria. Comprei duas caixas de leite, pães e um saco de farinha.
Ele sorriu de um modo aflito. Agradeceu entusiasmadamente...saiu correndo e não viu o sinal.
Olhei pra trás, meu peito deu um nó.
Era só um menino, pedindo na praça. Queria só a comida e um pouco de atenção.
O que eu fui fazer? Que decepção!
Pediram para eu me afastar. Logo chegou o furgão do SAMU. Uma mulher maltrapilha se apresentou como a mãe. Gritava de um modo esquisito. Parecia querer chamar a atenção.
Nessa hora o paramédico a acalmou.
- Senhora, foi só uma fratura exposta. Logo ele poderá novamente brincar, ir à escola...vida normal de uma criança da idade do João.
Saí cabisbaixo. Tomei a minha condução.
Cláudia Machado
29/4/18