AS PÉROLAS DE SALVADOR DO MERCADO
Algumas pessoas são tão espetaculares que mesmo que queiramos ou nos esforcemos, jamais conseguiremos esquecê-las. São pessoas que chegam a marcar, em vida, várias gerações. Elas chegam às nossas vidas de maneira sutil e encrusta a alma delas dentro da nossa alma. Marcam territórios em nossas memórias afetivas, cronológicas e psicológicas. Imaginem pois, vocês, que desde 1985 que não vejo um personagem do grupo destas pessoas espetaculares, e agora em pleno 2017, juntamente com um grupo de amigos, através de uma postagem do face, estou a recordar uma variedade de pérolas faladas por este personagem.
O personagem desta nossa história era conhecido pela alcunha de Salvador do Mercado, e dar adjetivos de identidade para as pessoas era um traço da nossa cultura santa-mariense. Nós já tínhamos na cidade o Salvador da barbearia, o padre Salvador e o Salvador do mercado, recebeu a sua identidade de Salvador do Mercado, para não fugir da tradição de entrar para o livro de registro costumeiro de apelidos da nossa cidade.
Salvador do Mercado era um comerciante de estatura mediana, pele morena bem clara, cabelos negros como as penas do pássaro preto e um bigodezinho à Mazaropi( hoje a la Novais Neto) O estabelecimento comercial de Salvador ficava na saída do mercado que dava acesso para a rua paralela ao rio corrente, ou seja na rua que dava acesso para a rua de cima e a rua de baixo diretamente.
Jamais alguém chegava a sua venda sem sair dando risadas ou contente em ouvir os causos de Salvador do Mercado.
- Vende fiado? Perguntava alguém em tom de brincadeira.
- Fiado não tenho! Não conheço essa mercadoria ainda. Talvez o Doca tenha.
Doca era outro comerciante ali do Mercado que além de ter a sua venda, tinha barracas montadas no meio do corredor que pegava da esquina da venda do Salvador até a venda de seu Antero, pai do nosso amigo Zito. E ainda montava barracas do lado de fora na entrada que dava acesso Á Praça dos Afonsos.Era um religioso católico, mas se precisasse emprestar algum dinheiro, nem pra Deus ele faria, quanto mais vender fiado! Isso não passava de mais uma das pérolas do Salvador.
Apesar de ser um bom sujeito e muito brincalhão, Salvador era um cara sério quando se tratava de assuntos sérios, muito ligado à sua família. Convivíamos com o seu pai e os seus irmãos ali na venda de maneira harmoniosa e também fora da venda no nosso dia a dia, quer no estádio, quer nas praças. Jamais desrespeitou alguém nas suas brincadeiras jocosas e também não dava abertura para ser desrespeitado. Era brincalhão sem ser sacana.
As suas brincadeiras e seus ditados, seus motes e suas piadas, embora ele ainda esteja no meio de nós, já o imortalizaram! O Palhaço Cortiça do Gram Circo Teatro Igor, por ocasião da sua segunda passagem em Santa Maria da Vitória, talvez fazendo com-pras na venda do Salvador do Mercado, teve ter observado o jeitão dele, gravou algumas coisas e fez uma surpresa em uma das apresentações de esquetes.
Circo lotado, pessoas dando risadas das piadas do palhaço, do seu tradicional: Ê lasqueira! Mas quando ele virou para plateia e disse: Arrudiei e botei lá, as arquibancadas de madeiras quase vieram abaixo, tamanha fora a carga de risos carregada de felicidades por parte de todos os santa-marienses que estavam como espectadores naquele espetáculo. Eu estava lá! Foi como se a nossa cidade fosse passada no fantástico, no Faustão etc....
FALAS DE NOSSO AMIGOS
*José Vieira: Num sábado dia de feira alguém perguntou pra Salvador se aquele feijão era mole! Ele respondeu: é igual a ovo!
Comprando alguns quilos e de volta no outro sábado.
- Você me enganou! Disse que o feijão era mole!!
- Eu disse que era igual a ovo! Quanto mais cozinha mais endurece!!! Respondeu Salvador laconicamente.
*Antonio Fernando de Oliveira: Nessa nova atividade dele, o carro atolou perto dos Olhos D'água do Cumba, e foi anoitecendo e ele resolveu procurar uma casa para pernoitar.
Uma senhora já de idade disse pra ele:
- "Tem uma cama aí meu fio, ocê pode dormir. Amanhã arruma gente para desatolar o seu carrim".
Salvador com uma fome danada mandou: - Ô dona, lavar os pés com fome pra dormir não faz mal não? E a mulher foi arrumar o rango pra ele.
*René Neves Sá: E no mercadinho de Salvador, perguntávamos: Salvador tem prego de salto? Ele respondia: tem não, saltaram pra outra loja, ou "tem, mas acabou"...
*Joel Benjamim: Naquela época, falava- se que Salvador vendia de tudo, inclusive balas da marca Nilva (antiga marca de balas doce que era negociada pela empresa de nome “Campineira), como também balas de revólver.
Um dia, a Polícia, salvo engano Federal a paisana, chegou e perguntou a ele se tinha balas e Salvador prontamente disse que tinha, e eles solicitaram uma certa quantidade de balas. Quando Salvador foi pegar as balas, percebeu que um policial piscou um dos olhos para o outro, e safo e perspicaz e sendo assim, Salvador perguntou: é bala Nilva ou de Hortelã? Os policiais disseram que seriam balas de revólver. Prontamente Salvador respondeu que não tinha balas, de revólver, porque a sua venda era proibida. Mediante a negativa de Salvador os policiais foram embora de mãos vazias. Esta é mais uma história de Salvador do mercado.
*René Neves Sá: JoÃo Nogueira da Cruz , bota a minha dentro, viu!
*Pedrinho Dinamith: Eu Pedrinho juntamente com o Soldado PM Zé de Mário e Seu Moraes, fundamos o Vasco que mais tarde passou ser RODOCLUBE. Certo dia fomos ao mercado pedir uma ajuda financeira para comprar uniformes. Chegando la Zé de Mário disse : Salvador ajuda o Vasco. Prontamente ele respondeu : Zé conta comigo! Domingo à tarde estarei no ESTÁDIO WILSON BARROS gritando: vai Vasco vai Vasco.
*A Mariozan Fernando Silva: Cacha de fosco, tambor de soda, pinico de alumínio.
Ouvi demais essa expressão.
Acho que ela diz tudo sobre nada e ao mesmo tempo que diz nada sobre tudo.
*Antonio Augusto Santos: Tem uma que ele estava concertando um carro velho e sua mulher lhe diz: Salvador deixe este carro se não vc vai perder o juiz, e ele responde : tem nada não mulher eu fico com o delegado e o promotor.
*Heronilton Costa: Como todos sabem , ele também era metido a ser goleiro lá na quadra de Chiquinho, e quando tinha uma falta e perguntava: barreira, salvador? ele respondia pode ser Serra Dourada mesmo.( Barreiras e uma cadê do oeste baiano e Serra Dourada tambem)
*Davidson Cordeiro Leão: E salvador foi na padaria e perguntou , tem pão ai? e a mulher respondeu ao Salvador: só tem pão dormido. Ele logo em seguida emendou: acordo dois aí.
*Davidson Cordeiro Leão: Salvador estava no carro parado na rua e em seguida encostou outro carro, e o cara falou: tira seu carro aí que está empatando, e Salvador respondeu ,que empatar era melhor do que perder.
*Davidson Cordeiro Leao: Um dia Salvador emprestou o seu carro á um amigo, depois de uma hora chegou um rapaz e falou: Salvador seu carro bateu no ônibus!
Ele respondeu: Eu não falei que meu carro é valente!
*Pedrinho Dinamith: Disputávamos o campeonato da liga Samavi em 75, eu jogando pelo PALMEIRAS de João do SAAE. No final do jogo Salvador me falou: Pedrinho, você tem um bom futuro! Ai eu fiquem envaidecido! Mas ao concluir o seu elogio ele disse da maneira que lhe era bastante peculiar, com aquela voz meio desentoada, séria e carregada de gozação: Só te falta domínio de bola, preparo físico e direção nos chutes.
*Reinaldo Ataíde De Oliveira: Uma cigana chegou para ler a mão de Salvador, aí o que ele fez? Pegou a mão da cigana e disse: eu é que vou ler a sua mão. Estou vendo muito pelo de animal........
Charles Cruz : Caro João Nogueira, teve uma de Salvador, que foi assim: um famoso pintor da cidade, chegou no Comércio de Salvador e perguntou, Salvador você pinta como meu pinto, de pronto Salvador respondeu, não, eu pinto com pincel, eu não pinto com broxa.]
Antonio Fernando De Oliveira :Tem mais uma para você colocar no repertório Joao Nogueira da Cruz . Salvador fazendo linha com a caminhonete para o Barreiro da Cana Brava, ficava no Engenho do Cedro tomando umas. Foi picado por uma jararaca. Levaram ele para o Barreiro, para a venda de Adélio (falecido), tio de Bujica Matos. Adélio vaticinou que o remédio era fumo de corda mascado para que ele pudesse chegar com vida em Santa Maria. E começou a máscar o fumo e mandava a cusparada vc em Salvador do Mercado.......E levou algum tempo para arrumar um motorista. Bom, trouxeram ele que foi medicado com o soro antiofídico. Me contaram essa história tragicômica. Na barraca de Miltinho estava Salvador do mercado. Eu perguntei a ele como foi o negócio da cobra no Barreiro da Cana Brava. E ele mandou: "Tomei uma picadura de cobra e ainda recebi fumo na boca!"!
*Do livro” meu lugar é aqui no centenário de Santa Ma-ria da Vitória” de Novais Neto- Página 154
“ Baiano, depois de uma noitada etílica, afogou-se nas águas do Rio Corrente, em Santa Maria da Vitória, no rosicler da manhã. Enquanto Sinhô, sorumbático e inconsolável, apartado abruptamente do amigo, despediu-se do mundo – também afogado – no mesmo aziago dia, à tarde. E lá se foram os amigos indobeclíveis e sub-relevapes, vítimas de dipsomania.
Salvador do Mercado, folgazão e piadista contumaz, num piscar de olhos, fez verdadeira a máxima popular:
- Isso é que são amigos! Até debaixo d’água!
(Do Livro" Causos Correntes"
Salvador era uma pessoa tão folclórica na nossa cidade e nas nossas vidas que eu encerrei o meu livro Cassaram Ars Ceroulas com uma fala fictícia dele:
-Até que enfim, cassaram as ceroulas! Diz Salvador do mercado em tom jocoso.