Dinheiro compra tudo, compra até amor verdadeiro.
Esses dias enquanto aguardava o horário pra um compromisso no Centro de São Paulo fui no agradável espaço de Café do Centro Cultural BB. Entrei, sentei, abri minha leitura do mês, era uma coletânea de crônicas e citações do Nelson Rodrigues, numa delas dizia o ácido escritor Pernambucano: "O Dinheiro compra Tudo, Compra até Amor Verdadeiro".
Enquanto refletia a provocativa frase, percebi na mesa contígua um distinto senhor de mais ou menos 60 anos de olhar sorumbático, macambuziamente sozinho, chorava, acolhendo as lágrimas num fino lenço de seda. Melancólico, tentava relaxar tomando café, alternando com leves goles de água tônica. Sem fazer ressalva, de onde estava, me sugerio que experimentasse o café n° 01, me disse que como bom apreciador do valioso grão o sabor daquele era incrível e valia muito a pena provar. Aceitei. Sem perder a deixa, emendou dizendo que como corretor da Bolsa de Valores era ali que aliviava as pressões do ofício e dos problemas pessoais; não bebia álcool, tinha apenas dois vícios na vida: cafeína e mulher.
Como o primeiro vício era droga lícita, disse que desde na tenra idade consumia diariamente e portanto não saberia viver sem a inigualável ingestão do líquido preto. Já quanto ao segundo vício, esse o fez viver grandes paixões, mas todas desastrosas e naquele momento o estava matando à conta gotas: " Rapaz , acredita que depois de tudo que fiz por ela, tirando a miseravel da Zona Leste, dei casa, carro, roupas e jóias, a ingrata me trocou por um pedreiro, [ UM PEDREIRO ] de 20 anos!!!???" Gesticulando como um ébrio, continuo: e o pior de tudo é que amo aquela mulher. O que acha, devo dar uma chance?
Confesso que tenho dom para atrair pessoas com dilemas e nessas ocasiões na medida do possível tento dar um conselho racional, mas olhando aquele senhor que apesar de rico já estava prestes a num ato de desespero romper o fio da vida, preferir ser pragmático e propus que perdoasse a " ingrata donzela" e vivesse aquele improvável amor, afinal pior que um amor não correspondido era a infelicidade de nunca ter amado alguém. Sorriu, pagou meu café e saiu como um adolescente que amava pela primeira vez.