FORÇA, BEM-TE-VI!!
Sempre admirei nos pássaros, além da inquestionável beleza, a feliz possibilidade do voo. Altos, rasos, lentos, ou rápidos, todos eles despertam minha admiração. Não há como dissociar o bater de asas do estado de liberdade plena. No entanto, sabemos, são muitos os riscos. Tenho acompanhado de perto as muitas etapas e tentativas de alguns pássaros até o seu indescritível e perigoso primeiro voo.
Faz tempo que alguns bem-te-vis escolheram como ninho de amor, um lugarzinho na minha varanda, entre uma viga e as telhas. Não entendo muito bem, o porquê da escolha. Lá, constroem seus ninhos, depositam seus ovinhos e dedicam-se a aquece-los até o nascimento dos pequeninos filhotes. Pobrezinhos...não entendem que o perigo mora ao lado, onde depois de crescidos se refrescam na convidativa piscina perto do ninho. Inocentes e ansiosos, cuidam para que nada aconteça aos seus amados passarinhos...
É lindo de se ver, como em dupla, a mãe e o pai, trabalham para proporcionar aos filhotes segurança e conforto. Enquanto um cuida, o outro traz alimentos. Quando certa vez, levada pela curiosidade, me aproximei do ninho, a mãe pássaro colocou-se a me ameaçar com estridentes, nervosos e desafinados ruídos. Pobre mãe pássaro, desconhece os perigos existentes na aparente beleza de um tranquilo jardim.
Depois de tanto empenho da mãe e do pai pássaro, apesar das nossas tentativas de salvamento, alguns filhotes ao tentarem seu primeiro voo, dão fim às suas vidas, mergulhando mortalmente na piscina. É de doer o coração, encontrá-los sem vida, boiando em águas transparentes e geladas...Toda a dedicação dos pais vai literalmente, por água abaixo.
Mas lindo mesmo, é quando o destino dá um empurrãozinho e assopra a favor. E apesar dos medos, das dificuldades e armadilhas da vida, eles não desistem e insistem uma, duas, três vezes...e numa decisão de coragem; saltam, e vão, e voam, e voam tão longe, tão alto...tão lindo, porque é de sua natureza o voar, assim como é da natureza do homem o amar. E passa o medo e vem a confiança, aos poucos, no voo ainda desengonçado, sem muito equilíbrio, sustentando a adorável leveza do ser.
Infelizmente, há poucos dias, triste fim teve o pássaro preto que, inadvertidamente, decidiu construir seu ninho entre os galhos da quaresmeira...Temos gatinhos em casa...e mais uma vez, uma inocente alma voou ao céu...
Elenice Bastos.