NESTOR TANGERINI / POR PAULO MONTEIRO
NESTOR TANGERINI: UM NEOPARNASIANO DE NITERÓI
Texto de Paulo Monteiro
Nestor Tambourindeguy Tangerini nasceu em Piracicaba, no Estado de São Paulo, no dia 23 de julho de 1895 e faleceu no Rio de Janeiro a 30 de janeiro de 1966. Foram seus pais o aventureiro italiano Vittorio (Victorio) Tangerini e a bageense Domingas Tambourindeguy, filha de bascos.
Professor em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, Nestor Tangerini participou da "Roda Literária do Café Paris" daquela cidade, na década de 1920, como era costume naqueles tempos de Bélle Époque.
Vivíamos em plena efervescência da "segunda geração parnasiana". A primeira ofereceu a chamada "trindade parnasiana": Olavo Bilac, Raimundo Correa e Alberto de Oliveira. E entrávamos para a terceira. E é nesta que se insere o poeta de Niterói.
Afrânio Coutinho (São Paulo: Global Editora, A LITERATURA NO BRASIL, V. 4, 7ª Edição, 2004, p. 594 e seguintes) classifica os jovens poetas que se iniciaram nas letras partir de 1894, sob a influência parnasiana, de "epígonos parnasianos". Seguem à risca a rigidez formal da escola. Já, à época em que Nestor Tangerini e seu grupo imperavam no Café Paris havia um certo afrouxamento nos preceitos formais da Escola.
Falando desse último período assim escreveu Afrânio Coutinho: "De modo geral, a época se distingue pelo afrouxamento do rigor métrico, tanto da parte dos poetas, que tendem para a representação da natureza circundante, como da parte dos que preferem a exteriorização de sentimentos e estado de alma". (Vol. cit., p. 597).
Nestor Tangerini e seus companheiros inserem-se entre aqueles "que tendem para a representação da natureza circundante", o que se manifesta claramente através da grande produção satírica. E, desta, uma característica básica é o "afrouxamento do rigor métrico". O segundo componente elementar da sátira é o "afrouxamento do rigor linguístico", glosando a feliz expressão de Afrânio Coutinho.
Esse apego à sátira e o humor é marca registrada da Bélle Époque. E foi seu bem e seu mal. Seu bem por que produz uma literatura leve, o "sorriso da sociedade" na clássica expressão de outro Afrânio, o Afrânio Peixoto. Entretanto, a sátira é datada, como "registro" de um caso particular. Não se presta à essência do fazer poético. É o que notamos em belos poemas de Nestor Tangerini. Só se revelam plenamente em estando acompanhados de comentários. Sirvam de exemplo as crônicas em que Nelson Tangerini encerra os poemas de seu Pai.
Essa "efemeridade", essa "datação" da maior parcela poética neoparnasiana contribuiu para que não fosse bem recebida pela "grande crítica". E esta, no caso de Niterói, ficava há poucos quilômetros, na cidade do Rio de Janeiro.
É provável - e meramente hipótese - que algum tipo de disputa "política literária" entre a "crítica nacional" e os "poetas municipais" niteroienses também haja contribuído para que os segundos tenham sido jogados para escanteio pelos primeiros.
Nesse ambiente é que se desenvolve a obra poética de Nestor Tangerini e dos parnasianos do Café Paris. Não se pode esquecer um ponto importantíssimo: os poetas de Niterói não reuniram seus poemas em livros publicados por editoras que os fizessem circular nacionalmente. E como diz a sabedoria popular: "Quem não é visto, não é lembrado."
Cabe um agradecimento a Nelson Marzullo Tangerini, filho do poeta e divulgador de sua obra. Trata-se de um raro e elogiável gesto. A maioria dos filhos esquece a memória dos pais. E a obra destes só é lembrada se render direitos autorais. Nelson me enviou dois livros que dedicou ao poeta de "Dona Felicidade": "Nestor Tangerini e o Café Paris" e "A Taba de Arariboia", que me permitiram um aprofundamento na obra do poeta, que eu já conhecia de referências e poemas esparsos.
PAULO MONTEIRO É ESCRITOR E POETA E IMORTAL PELA ACADEMIA PASSO-FUNDENSE DE LETRAS.