Campo da Esperança
Hoje quero falar sobre a justiça. Não a justiça dos livros, essa que fundamenta o nosso Código Penal e tantos outros. Quero falar sobre o conceito que os homens têm de justiça. Ou sobre a falta de conceito que muitos têm dela. A justiça dos homens não é perfeita. Pode ser linda no papel, mas é cheia de erros. Justamente porque foi feita pelos próprios homens, que são passíveis de erros, de falta de conhecimento e compreensão de muitas coisas nessa vida. Os homens são um paradoxo. Tanto podem ser bons, quanto maus. E mesmo na sua condição de bondade, muitas vezes se deixam levar por atalhos que os tiram do caminho do bem, mesmo que sem perceber. Podem ser seduzidos pelo brilho do poder, da riqueza, do conforto que todos sonham. Ou podem ser induzidos a tomar rumos diferentes, persuadidos por promessas, por enganos ou visão deturpada da realidade. O homem é frágil, refém de sua natureza que prioriza sempre a sua sobrevivência. E ainda tem a questão do orgulho, a dificuldade em reconhecer ao mundo os seus erros, a sua ignorância que deu margem a eles, o que o coloca na condição de desafiar o mundo e os outros. Esses são alguns dos caminhos onde penso que onde se perdem os homens bons. Nas veredas do mal que tentam aliciar a todos.
Mas os homens maus já nascem prontos. Desde criança seu comportamento é diferente, agressivo, gosta de ver o outro sofrer com suas brincadeiras maldosas, com seus ataques camuflados pela inocência da idade, inocência que na verdade eles não têm. Não precisam da influência do outro para o mal feito, já sabem onde a ferida dói mais no outro, principalmente os mais humildes e mansos, vítimas de suas tramas infantis. Até que crescem e se dedicam a alimentar a sua raiva interior com a ganância, a prepotência e a vontade de dominar o seu entorno. Passam por cima de tudo e de todos para conseguir seus objetivos, pisando sem piedade sobre quem cruza seus caminhos. O importante é conseguir seus sonhos, não importa o preço e nem a forma de conseguir seus ganhos.
E no meio de tudo isso, está a justiça. Aquela mesma que deveria ser a arma para defender os mais fracos e humildes, no entanto tão revestida de subterfúgios para estar a serviço dos fortes e destemidos, aqueles que se vestem com a capa do poder, pagos com o lucro das vantagens ambiciosas dos que se garantem enquanto no caminho da glória a qualquer preço. É por isso que vemos a justiça sendo dilapidada diante de nossos olhos incrédulos, quando vemos por exemplo mães detrás das grades, separadas da família por cometerem crimes para saciar a fome dos filhos, como roubar comida, um pote de manteiga ou um pacote de fraldas, ou vender drogas para comprar o pão, enquanto as esposas milionárias e cúmplices de políticos corruptos são liberadas com habeas corpus que têm como justificativa a sua prerrogativa de mãe, das quais os filhos não podem ser privados. Então eu me pergunto que justiça é essa. E a resposta é simples: é a justiça que foi feita para garantir a impunidade daqueles que a manipulam para manter a sua sobrevivência, os que legislam em causa própria, já sabendo a conseqüência de seus atos e onde estão as entrelinhas que os protegerão das malhas da lei. Por isso não acredito mais nessa justiça inglória. Pelo menos na nossa. Ela está sendo maquiada com a cara dessa política podre, reinventada a toda hora para atender interesses daqueles que determinados a se enriquecer a qualquer preço, se infiltram nas grandes corporações que pagam altos preços para manter seus interesses, usando nossos ilustres legisladores que escolheram o caminho do mal para semear seus lucros e se vendem a qualquer preço. Já temos alguns bodes expiatórios sendo alvos da justiça para abrandar nossa ira e amenizar nossa decepção. Mas não há mais como salvar a safra. O mal já foi semeado e as ervas daninhas se espalharam no nosso campo de esperança e as elas deixarão suas marcas, e o que é pior: também espalharão sementes.