Os Quarenta gatinhos.
Devido a compromissos particulares, estive ontem, dia 29 de agosto, na cidade de Três Rios, distante cerca de 75 quilômetros desta Miguel Pereira. Como consegui chegar antes do horário combinado com quem me aguardava, decidi gastar o tempo disponível passeando por algumas ruas da adjacência. Numa delas, uma bonita casa chamou-me a atenção, não apenas pela harmonia de sua cor, bem como a beleza de seu jardim. Então, parei para melhor apreciá-la, e, qual não foi a minha surpresa ao constatar a presença de inúmeros gatinhos soltos, espalhados por todos os arredores daquela residência.
Já me preparava para deixar o local, quando apareceu na porta da bonita varanda, uma senhora, a qual depois soube tratar-se da proprietária da casa e dos felinos. Perguntou-me:
- O senhor gosta de gatos? Pode levar um, desde que cuide bem. O meu passa-tempo é cuidá-los e fazer doações para quem os tratar com o devido cuidado.
Um pouco desconcertado, respondi negativamente, acrescentando não estar interessado. Mas, curioso, indaguei-lhe sobre a quantidade dos bichanos, no que respondeu de imediato;
-Atualmente são quarenta, porém todos meigos, mansos, não são egoístas, pois cada um come a sua porção de ração, sem que haja brigas entre eles, por ganância. E tem mais, senhor. Eles demonstram humildade e respeito, um para com o outro, principalmente para quem os alimenta.
De maneira educada, procurando retribuir a gentileza a mim dispensada, continuei o diálogo:
- Senhora! Em virtude da coincidência do número quarenta, a sua explicação lembrou-me de uma outra situação, também verdadeira, mas totalmente oposta quanto ao aspecto comportamento. A senhora tem acompanhado o noticiário da mídia nacional?
-Não, senhor. Os meus afazeres me tomam o tempo e, ao parar, só tenho vontade de descansar. Pode contar o que esperava que eu soubesse.
-Vou esclarecer-lhe: Diferentemente de seus gatinhos, existem nos porões infectos de Brasília, entre ratos e ratazanas, cerca de quarenta roedores da comida do povo, porque não se contentam em degustar, rotineiramente, os seus saborosos queijos do Reino, pagos também com o dinheiro honrado da população brasileira. São obcecados, pois querem sempre mais. Quando conseguir um tempo disponível, ligue, por favor, a sua televisão no Jornal Nacional e terá, não somente a confirmação do que lhe contei, como ainda saberá que outro rato, considerado o dono do porão, esqueceu de dar a ração mensal de seu filhote, pedindo a outro, não menos roedor, que o fizesse. Eu e todos os brasileiros dignos estamos aguardando o difícil, porém não impossível extermínio dessas pragas de esgoto. Senhora, perdoe-me por incomodá-la, mas eu vou pedir licença para ausentar-me, pois está se aproximando o horário de meu compromisso, aqui em sua cidade. Bom dia e esteja permanentemente com DEUS. Obrigado pela atenção.
Ao chegar em casa, após o lanche, logo vieram à lembrança os fatos vivenciados naquela cidade vizinha. Pensando na corja da capital Federal, resolvi ligar o aparelho de som, ouvindo músicas orquestradas, ao invés da televisão.