Pequenas histórias 196

Ruan desceu

Ruan desceu do ônibus e, como estava chovendo, abriu o guarda-chuva. Atravessou a rua apressado, esbarrou nas pessoas, uma senhora até ficou indecisa sem saber para que lado ir deixando-o atrapalhado. Ao chegar à Paulista, parado a espera do sinal abrir, se perguntou:

- Por que estou apressado? Tenho ainda quarenta e cinco minutos, não tenho motivos para andar como louco. Talvez, por querer fugir da chuva. Uma alternativa. No entanto não é uma chuva na concepção da palavra. É mais uma garoa ou, como diz os equivocados da vida, é chuva de molhar trouxa. O que não deixava de ter um pouco de razão. Pois se ficar muito tempo na garoa acaba-se molhado. Mas não era o caso nesse momento, pensou irritado com os guarda-chuvas espetando a cabeça.

Acontece que a questão não é essa, pensou ao subir a pequena escada que levava ao edifício de vidro.

- Não sou nenhuma Sofia* e não tenho nenhum professor de filosofia. O problema é o seguinte: será que precisamos explicar tudo o que fazemos? É preciso de uma explicação? O homem precisa se explicar porque faz isso ou porque faz aquilo? Aparentemente não. Por que aparentemente? Creio que dependerá da sua situação social e, talvez de onde ele estiver. Então ele precisará se explicar? Sim e não. Por que sim e não? Por exemplo, eu, Ruan, apressado para não me molhar, dirigindo-me ao trabalho, o que se poderá considerar que também não quero perder a hora, se não abrir o guarda-chuva, se estou sendo um trouxa tomando garoa, não preciso me explicar, certo? Nesse caso sou indivíduo anônimo, as pessoas passam ou cruzam comigo não querem nem saber quem eu seja e, poucos estão se importando do porque de estar me molhando nessa garoa. Certo? Até o momento certo. Mas se você, nessa chuva, deitar de barriga para cima, ali, no meio dos dois prédios, vai ter que se explicar. Sim, acho que vou principalmente para o segurança que, talvez delicadamente peça para sair dali, me levantar ou, no caso de resistência da minha parte é capaz de levar-me preso. Isso me faz lembrar o mendigo que estava em pleno meio-dia dormindo no canto do muro. E por que acontece isso? Por que tanto eu como o mendigo atrapalhamos a arquitetônica beleza ferindo os olhos dos que nada enxergam. Isso mesmo. Então, qual a conclusão que temos? Bom, o homem precisa, em determinados momentos se explicar, e em outros não precisará se explicar. E em que momentos serão esses que ele não precisará se explicar? Bem, será em decisões que não atrapalhem outros ou lugar em que ele se encontra. Resumindo: em decisões próprias, como ir ao cinema, comprar um livro, fazer amor, dormir, em fim, em pequenas decisões. Isto mesmo. Ah! Lembrei-me de uma coisa: é melhor parar por aqui, pois o campo é muito bom para uma discussão, tem muito pano para manga, mas deixe-me terminar, colocar um ponto final, salvar, fechar o World, e trabalhar senão terei que me explicar, certo?

pastorelli

Pastorelli
Enviado por Pastorelli em 25/04/2018
Código do texto: T6319047
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