Rush
Mais um dia como os outros.
Volto do trabalho pela avenida que a essa altura está coalhada de veículos, gente igualmente cansada, retornando para casa ou indo para a faculdade, taxistas com os olhos no horizonte, passageiros aflitos com a tarifa.. Ônibus lotados, gente mais em pé que sentada. Um rapaz, da janela, olha pra mim, faz um sinal de que não está tão feliz, mas algo me diz que com o fone no ouvido, a viagem dele será mais rápida que a minha.
A noite vai chegando cada vez mais um pouco. A primeira estrela, que é errante, desponta solitária por breves instantes. Na palheta celeste a mistura vai de um rosa intenso, cinza e um anil cada vez mais marinho. As lanternas dos carros fazem um bailado lá no viaduto que sobre as duas pistas se estende. Parece cumprir com resignação, o seu papel nesse horário de rush, deixando ir e vir o fluxo dos carros. Os prédios tantos vão ficando iluminados, as suas luzes desenhando uma espécie de tablado... As buzinas incomodam e vez ou outra, um xingamento de algum impaciente com a vida na cidade. Quem ainda não se acostumou, melhor se apressar... Estou escrevendo esse texto sem avançar quase nada na pista.
Hum... parece que há, ali na frente, uma batida ou atropelamento. Chega com dificuldade uma ambulância com a sirene ligada... Mais um pouco e já posso ver. Está lá no chão... Outros motoqueiros vão chegando solidários. A caixa de pizza está no meio da pista. Mais um número para a triste estatística das cidades grandes.
E ninguém percebeu que, especialmente hoje, era dia de lua cheia.
Cláudia Machado
25/4/18