Samara

Samara

Em uma manhã de setembro onde flores perfumavam a vila de uniformes verdes, Samara em seu habitual ritual seguia em direção a escola que lecionava na Vila Militar-RJ. Ao saltar do ônibus e andar em direção ao seu destino, ouvia manifestações de “Psiu!” vinda de determinada direção. Lisonjeada e vaidosa, iniciava-se para a bela criatura, um dia maravilhoso. Imaginava que jovens soldados desviavam-se de seus afazeres para apreciá-la de forma não muito delicada, mas dando-lhe a certeza de que estaria chamando a atenção pela sua beleza. Diminuia seus passos e se identificava como uma musa na passarela tentando alinhar em seu caminho riscos de solados finos.

Lembrava-se de dias ruins em que não era notada nem pelo próprio namorado e sentia-se realizada em ser admirada por homens truculentos que exibiam elogios através de simbólicos beijos repetitivos. Samara impunha uma postura de mulher séria e desfilava seu encantado corpo bronzeado, coberto por cintilante vestido branco, vestimenta não apropriada para o momento, porém adequada ao seu estado de espírito. Curiosa, ela precisava ao menos saber quem estaria por trás de tão insistentes gestos e discretamente resolveu olhar para trás e não avistou ninguém. Nenhuma criatura se manifestara e mais que insistente seus olhos foram em direção às imensas árvores e viu apenas um bando de micos atrevidos em uma sinfonia de “ Psiu´s”.

“Mas a vida não é como a gente quer: entre o sonho e a realidade, existe um homem mau que resiste ao nosso desejo.”

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 23/04/2018
Reeditado em 06/10/2024
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