O Encanto Nos Olhos Seus
18 de abril é o dia nacional do livro infantil porque coincide com a data de aniversário de Monteiro Lobato e aqui no município onde moro sempre se organiza a semana do livro com feira literária e muita programação para comemorar e divulgar a leitura e a literatura em geral.
Eu, como contadora de histórias que sou, acabo sempre me inserindo nesta programação por livre espontânea vontade ou sendo inserida e comunicada depois. Então a gente se desdobra por amor à causa e vai lá e faz o melhor que pode e sabe para agradar a rapaziadinha.
Neste abril de 2018, exatamente no dia 18, fui com outras contadoras, narrar histórias numa biblioteca pública num bairro próximo.
Um ônibus chegou cheio de crianças que lotaram o auditório. Estávamos em quatro contadoras e eu sempre me preocupo com o teor das histórias que vão ser contadas, por medo de que aquilo se transforme numa longa e chata sessão de narrativas sem graça.
Conheço bem o repertório de uma das colegas ali presentes e sei que nada tem de monótono.
Quantos as outras duas...
O frio na barriga se manifesta - eu digo, quando alguém quer saber, que não sinto, mas sinto sim - principalmente se estiver em companhia de outras contadoras que não conheço. Mas a gente respira fundo e faz sempre o máximo, porque, nessas situações, não tem como enganar ou fazer meia boca, senão a plateia te detona, uma plateia de prè-adolescentes é sempre muito exigente.
E eu me realizo quando consigo prender a atenção de todos eles ou quando os faço sorrir.
Gosto de contar contos populares da tradição oral, a grande maioria cheios de ação, divertidos, com algum ensinamento implícito e sem o politicamente correto e sem graça de hoje em dia.
É claro que cada um vê e ouve o que bem quer, dependendo do momento, mas acredito que a gente sempre consegue atingir uma boa parcela da audiência.
Contei, neste dia, dois contos. O primeiro de origem portuguesa e o segundo de origem Dominicana, que é um dos meus preferidos.
Eu procuro enxergar a plateia como um todo, porém, às vezes, se torna impossível não registrar o comportamento de alguém.
Na terceira carreira de cadeiras do auditório, dois meninos me chamaram a atenção especialmente.
Os dois se divertiam muito enquanto me ouviam. Um deles ria, se contorcia, se inclinava. O outro apenas sorria, tímido, passava a mão no topete alourado, fazia caras e bocas e me olhava com aquele olhar...
Que olhar era mesmo aquele?
Olhar de puro encantamento.
Olhar de quem foi atingido pelo estranhamento da mais pura magia enquanto eu me sentia uma deusa no Olimpo. Fiquei com dó de terminar a história, queria que ele permanecesse ali, me olhando daquele jeito para sempre.
Quando a sessão terminou e as professoras tinham pressa de ir embora por causa do horário, encontrei-os em fila indiana, na saída da biblioteca, onde a condução os esperava e então perguntei-lhes se haviam gostado da história da princesa e do João bobo e ele, todo vermelho, envergonhado, baixou os olhos e balançou a cabeça em sinal afirmativo. O outro lhe deu um cutucão e riram mais um pouco.
Eles tinham vindo de uma escola municipal e uma professora comentou, em determinado momento durante a chegada, que são ótimos alunos e valem os sacrifícios.
Não entrei em detalhes, pois ali não era o momento, mas talvez ela se referisse a saída da escola e o deslocamento num ônibus alugado que eu não sei quem pagou. Isso pode ser encarado como um sacrifício por alguém que ganha apenas para ensinar entre quatro paredes de uma sala de aula. Mas graças a Deus que ainda existem professores que se “sacrificam."
Entraram todos no ônibus e fiquei na calçada vendo-os partir. Barulhentos, alegres, despreocupados e encantados, acenando pra mim.
Ouviram várias histórias naquela tarde, entretanto eu sei que uma, de modo especial, tocou singularmente dois dos participantes que lá se encontravam e isso já me deixa satisfeita para continuar com a encantaria por aí a fora.
É uma pena que todos crescem e param de olhar o mundo com os olhos daquele garoto.
Não lhe perguntei a idade, acho que talvez uns doze anos e cheguei à conclusão que o tempo está acabando para ele pois os garotos se tornam homens muito cedo e param de olhar as mulheres com aquele olhar, seja por qual motivo for, olhar de arrebatamento.
18 de abril é o dia nacional do livro infantil porque coincide com a data de aniversário de Monteiro Lobato e aqui no município onde moro sempre se organiza a semana do livro com feira literária e muita programação para comemorar e divulgar a leitura e a literatura em geral.
Eu, como contadora de histórias que sou, acabo sempre me inserindo nesta programação por livre espontânea vontade ou sendo inserida e comunicada depois. Então a gente se desdobra por amor à causa e vai lá e faz o melhor que pode e sabe para agradar a rapaziadinha.
Neste abril de 2018, exatamente no dia 18, fui com outras contadoras, narrar histórias numa biblioteca pública num bairro próximo.
Um ônibus chegou cheio de crianças que lotaram o auditório. Estávamos em quatro contadoras e eu sempre me preocupo com o teor das histórias que vão ser contadas, por medo de que aquilo se transforme numa longa e chata sessão de narrativas sem graça.
Conheço bem o repertório de uma das colegas ali presentes e sei que nada tem de monótono.
Quantos as outras duas...
O frio na barriga se manifesta - eu digo, quando alguém quer saber, que não sinto, mas sinto sim - principalmente se estiver em companhia de outras contadoras que não conheço. Mas a gente respira fundo e faz sempre o máximo, porque, nessas situações, não tem como enganar ou fazer meia boca, senão a plateia te detona, uma plateia de prè-adolescentes é sempre muito exigente.
E eu me realizo quando consigo prender a atenção de todos eles ou quando os faço sorrir.
Gosto de contar contos populares da tradição oral, a grande maioria cheios de ação, divertidos, com algum ensinamento implícito e sem o politicamente correto e sem graça de hoje em dia.
É claro que cada um vê e ouve o que bem quer, dependendo do momento, mas acredito que a gente sempre consegue atingir uma boa parcela da audiência.
Contei, neste dia, dois contos. O primeiro de origem portuguesa e o segundo de origem Dominicana, que é um dos meus preferidos.
Eu procuro enxergar a plateia como um todo, porém, às vezes, se torna impossível não registrar o comportamento de alguém.
Na terceira carreira de cadeiras do auditório, dois meninos me chamaram a atenção especialmente.
Os dois se divertiam muito enquanto me ouviam. Um deles ria, se contorcia, se inclinava. O outro apenas sorria, tímido, passava a mão no topete alourado, fazia caras e bocas e me olhava com aquele olhar...
Que olhar era mesmo aquele?
Olhar de puro encantamento.
Olhar de quem foi atingido pelo estranhamento da mais pura magia enquanto eu me sentia uma deusa no Olimpo. Fiquei com dó de terminar a história, queria que ele permanecesse ali, me olhando daquele jeito para sempre.
Quando a sessão terminou e as professoras tinham pressa de ir embora por causa do horário, encontrei-os em fila indiana, na saída da biblioteca, onde a condução os esperava e então perguntei-lhes se haviam gostado da história da princesa e do João bobo e ele, todo vermelho, envergonhado, baixou os olhos e balançou a cabeça em sinal afirmativo. O outro lhe deu um cutucão e riram mais um pouco.
Eles tinham vindo de uma escola municipal e uma professora comentou, em determinado momento durante a chegada, que são ótimos alunos e valem os sacrifícios.
Não entrei em detalhes, pois ali não era o momento, mas talvez ela se referisse a saída da escola e o deslocamento num ônibus alugado que eu não sei quem pagou. Isso pode ser encarado como um sacrifício por alguém que ganha apenas para ensinar entre quatro paredes de uma sala de aula. Mas graças a Deus que ainda existem professores que se “sacrificam."
Entraram todos no ônibus e fiquei na calçada vendo-os partir. Barulhentos, alegres, despreocupados e encantados, acenando pra mim.
Ouviram várias histórias naquela tarde, entretanto eu sei que uma, de modo especial, tocou singularmente dois dos participantes que lá se encontravam e isso já me deixa satisfeita para continuar com a encantaria por aí a fora.
É uma pena que todos crescem e param de olhar o mundo com os olhos daquele garoto.
Não lhe perguntei a idade, acho que talvez uns doze anos e cheguei à conclusão que o tempo está acabando para ele pois os garotos se tornam homens muito cedo e param de olhar as mulheres com aquele olhar, seja por qual motivo for, olhar de arrebatamento.