O Amigo Fiel
O AmigoFiel
Um cão solitário. Negra era a cor dos seus pelos cansados e da sua fome.
Dentro da areia lavada ele se refugiava da noite fria e naquela madrugada observava meus passos e eu o ignorava pela pressa do cotidiano. Mas, alguma coisa silenciosa gritou para o meu coração apertado e não consegui dar a partida, engatar a primeira e ligar o som do meu carro porque o espelho retrovisor impediu que eu o abandonasse naquelas condições. Sua língua chorava de sede, as feridas em seu corpo cicatrizavam-se lentamente e suas pernas se arrastavam em minha direção. Não tive coragem de abandoná-lo e tratei de matar-lhe a sede e a miséria. Recebi em troca um olhar penetrante como se fosse um ser racional me gratulando.
Era agora dois animais se entendendo em uma rua deserta através de olhares e ao dar a partida e espiar o retrovisor, o cão de orelhas erguidas e rabos bamboleados dava adeus. A minha viagem era marcada pela aquela imagem inesquecível e o dia passou harmoniosamente. Ao retornar para o meu lar, senti saudade do amigo que não me esperou.
O dia seguinte, na mesma rotina, ao abrir o portão, deparei com aquela criatura cansada e ao mesmo tempo feliz em me ver. Convidei-o para entrar e nunca mais o meu amigo fiel deixou de me aguardar.