NÃO TENTE ENSINAR A QUEM NÃO PODE APRENDER.

Ninguém gosta de admitir seus próprios erros,só os inteligentes, entende diminuído seu estatuto pessoal, um gigante descompasso para progredir. E estaciona-se. Ferreira Goulart e outros admitiram erros cruciais, morreu sem estar cruciado. Morrem essas personalidades estacionárias aspirando dificuldades de lógica nem tão difícil de ser percebida, a ciência que é norte de tudo. Morrem na obscuridade, nem tão comprometedora para a sociedade, mas sufocante para eles mesmos em eventual redenção em luzes. Enfim, dirá outro espaço, mesmo asfixiante esse para os que assim vivem por aqui, administrando suas mazelas.

A qualidade de percepção das pessoas e seus emparedamentos inteligenciais perceptivos me assustam.

Mas há de se entender, e entendo, compreendo mais do que entendo, ser condição pessoal.

Assim, nessa toada, fica mais fácil viver em seus claustros reservados, onde se implanta a hipótese, do que nadar de braçada na evidência. Esses elementos da lógica racional formam o mar da compreensão, em tudo.

Evidência, cenáculo da lógica onde pontifica a certeza imbatível. Hipótese, terreno movediço e imaginoso que reflete o que não é, que seria, se fosse. A negativa do que se vê,e se nega, se vive e a realidade e o empirismo inegáveis demonstram, se desenham diante de nós, e se recusa.

Quando se enfrentam oposições por verdades intransponíveis, como Giordano e outros desse nível, permanece a história reverenciando seus nomes. Mas quando há mero capricho por opiniosa postura, a folha negra da história registra, como a raça pura de Hitler, a matança de grávidas pelo Talibã e também por judeus, bem como a incompreensível retirada da liberdade de muitos seres humanos pelo comunismo retrógrado, alguns desses sistemas imbecilizados superados, não em todos os rincões mundiais, tudo despontando desde o escravismo formal,e de certa forma ocorrente e ainda implantado até nossos dias,pela supressão das liberdades fundamentais, deixando apenas o homem de ser objeto do comércio, onde a segregação tomba sob os sentidos da percepção mediana e mesmo rasteira.

Há quem ache que Giordano morreu somente por defender o Heliocentrismo de Copérnico, que ia contra o sistema Geocêntrico acreditado pela igreja na época. Mas isso tem suas controvérsias. Na verdade, Bruno demonstrava total desprezo pela hipocrisia da religião e, por isso, abandonou a carreira religiosa para a qual estudou por longos anos na juventude. A igreja meio conturbada, queria recuperar seu poder abortando qualquer ideia que ia contra seus princípios, evitando ao máximo que hereges influenciassem seus seguidores e mudassem a visão que se tinha da fé. Giordano era um excelente pensador e à Inquisição incomodava com ideias e livros contestando dogmas da igreja. A morte de Giordano Bruno era afirmação de poder da Igreja. Morreu na fogueira irracional.

É a hipocrisia que tem como escola a hipótese que desensina, mas tem prosélitos.

Só aprende quem pode aprender, é visível no mundo de percalços e insucessos, e só se deve ensinar em ambiente propício a recepcionar o ensinamento. Ou se perde tempo. O colégio, se cursado, ensina muito pouco. E os aprendizados trazem o timbre da escolha, como tudo na vida. Uns aprendem mais outros menos, outros nada. Maquiavel, gênio da interação que servia ao Príncipe, usava sem esse princípio registrar, mas exercendo-o por aconselhamento, o artifício de ignorar os meios para chegar ao fim. Classificava as mentes como a que aprende sem precisar ser ensinada, a que aprende só ensinada e a que nem ensinada aprende. Nessa última habita a hipótese. Navega em hipótese e enfrenta com parcimônia a evidência. Um lado de "phatos" vizinho.

Certa vez dava aula em curso para ingresso na magistratura e expliquei como exemplo fato processual simples. Memorização de bens em ação premonitória à separação conjugal, ou incidentemente, tudo para preservar dilapidação do patrimônio por um dos cônjuges. Todos entenderam, menos um entre quarenta. E disse que não entendera. Expliquei de novo com outro viés. Continuou sem entender. Disse a ele, minha didática não é tão elástica.Estamos distantes em alcance.

“A educação é um processo vital”, ensinava Padre Leonel Franca, notável e um dos maiores educadores do Brasil, “e só a vida comunica e transmite a vida”, asseverava. “ O educador, em cuja alma se estancaram as fontes da verdade e do amor, esterilizou-se como educador. O que ele diz não vai além da superfície, é uma lição que desliza; é que ele só crê, espera e ama o que das profundezas de sua consciência lhe inspira e orienta os atos, que exerce influência profunda."

Funciona assim a externação do aprendizado, o intercâmbio entre alunado e mestre.

E continua Franca em seus escólios:

"Pobre criança a que cresceu numa atmosfera de mediocridades! Feliz do homem que na vida encontrou a luz e o estímulo de um grande e nobre exemplar de homem”. E lembra Leseur, quando deixou patente : “Toda alma que se eleva eleva o mundo”.

Refere-se a ter exemplo em um educador essa alma, mas torna-se impossível educar sem recepção.

Muitas portas se fecham para evidências e muitas outras se abrem para as barreiras da compreensão que se esgota e exaure na absoluta perda do mais raso entendimento. É difícil ensinar.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 22/04/2018
Reeditado em 22/04/2018
Código do texto: T6315854
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