Minutos difíceis
Um belo dia chega um telegrama da Rosa, minha cunhada, com palavras curtas: chego no vôo tal, da companhia tal, em Congonhas. Naquele tempo as ligações internacionais eram difíceis.
Tudo bem se o dia tal não fosse o dia seguinte.
Correria total. Avisos aos outros irmãos. Ligações para o aeroporto.
Dia seguinte tudo programado, meu marido iria buscar a irmã em Congonhas. Pensei em cuidar um pouco de mim. Queria causar boa impressão à minha cunhada. Comprei uma roupinha nova (tudo é desculpa para uma roupinha nova). Deixei o carro no mecânico conforme estava prometido há uma semana e fui ao salão tingir o cabelo. Enquanto aguardava com a tinta na cabeça saí até minha casa, pertinho, para descongelar algumas coisas. Na porta da geladeira um bilhete do meu marido: ”Pegue a Rosa. Tive contratempos”. Olhei o relógio. O avião devia estar descendo. Enfiei a cabeça de baixo da torneira pensando no carro. Daria tempo de chegar à oficina antes de ser desmontado? Saí como uma louca. Mal vestida, descabelada, quase sem lenço e sem documento. Carro totalmente sem condição. Fui de táxi. Cheguei a tempo de ouvir a voz monótona: “vôo tal, de Portugal, atraso de uma hora e meia”.
No espelho do banheiro do aeroporto vi refletida a imagem da heroína de fim de filme “Duro de matar”.
Ana Toledo (Republicação de 2011, BVIW)