LÁ VEM O TADEU !

LÁ VEM O TADEU !

"Nossa vida é permeada por luzes e sombras,

pois vivenciamos experiências diversificadas a

cada momento. E em meio aos acontecimentos

felizes e sombrios (...)"

(apresentação do livro escolar sobre Arte do

SUCESSO - Sistema de Ensino, 5º ano, 2015/PE)

Minha vida no Seminário Menor, em Araucária, nos anos 60 foi "um espanto"... a de meus colegas também ! Me surpreendo sempre por não conseguir lembrar de 1 dia inteiro sequer daqueles 2 ANOS, só imagens esparsas, breves momentos, "flashes" nublados e indistinguíveis. Me agrada muito saber, via Internet, que companheiros de classe do Ginasial dos anos de 1965/66 -- e de "infortúnio" -- ainda se lembrem do "Carioca". De minha parte, não posso dize o mesmo: os escaninhos da memória senil recusam-se a esclarecer qualquer coisa, as "gavetinhas" citadas por Lobsang Rampa -- guru daquela época que, descobriu-se adiante, era um mero militar britânico repetindo filosofias ouvidas quando erviu na Índia de 1920/30 -- não se abrem de jeito nenhum.

Mas o que e fazia no SM em têrmos de diversão nos raros momentos de lazer ? Creio que só ler, embora não me lembre e ninguém com livros na mão... não havia baralhos, dominó, víspora (no Sul, o tal de "bingo"), dama, xadrez, "jogo do palitinho", bola de gude, pipa ou "raia" e "pandorga", entre os sulistas, par ou ímpar, adivinhas, roda de piadas e fosse lá o tipo de atividade parecida com brincadeira.

Futebol, suponho eu, era só nos sábados e domingos de tarde, mas com uma ferida "incurável" na perna eu não podia participar. Na enorme piscina, terminada em meados de 1966, também não me era permitido entrar... nem eu pretendia, com um "verão paranaense" de 18 graus ao meio-dia. Sinceramente, fora o ping-pong -- com 1 mesa só "disputada" por 132 alunos e mais o saudoso Padre "Mozart", digo, Jorge Morkis, exímio na arte -- não me vem à memória nenhuma brincadeira da infância da época, que tinha "queimado", "cavalo de guerra" e "cabo de guerra" para os garotos e "pular corda" ou "céu e inferno" para as meninas. Não me recordo de rodas de prosa à noite e, fora do Coral, parecia não haver reunião de jovens em momento algum. Em email com bela crônica um amigo me confidenciou que éramos "autômatos, robôs" ! Não é à toa que minhas recordações mais nítidas são de excursões, piqueniques.

Vai daí, brincadeiras mesmo só no colégio das Irmãs Vicentinas, em Alto Paraguaçu onde, nas "peladas", o Padre Vítor Paszek -- que atuou adiante no SM -- "escondia" a pelota sob a batina. O auge era à noitinha com o viril "pique-bandeira" onde até camisas se rasgava. Todos queriam o Tadeu, um "tampinha" loiro ágil como um preá... no jogo, saía-se à caça dos "fugitivos" que ficam isolados dentro de uma "cerca" de mãos e corpos dos adversários.

Quem está lá fora precisa tocar num amigo prisioneiro, liberando assim o grupo inteiro. Tadeu era imbatível, sempre conseguia o feito, não lembro de um dia que tivesse sido capturado. Está indelével na lembrança a tarde em que, aproximando-se célere em ziguezague, usou a coxa de um "carcereiro" como escada e voou como um pássaro sobre a cerca humana, caindo glorioso nos braços de seus companheiros.

Mas Tadeu (*1) um dia foi vencido... silenciamos ambos sobre minha desesperada vitória sobre o ás das peripécias infantis. Desafiou-me a descer corda abaixo do sino principal da Igreja Matriz de Santo Estanislau, ao lado do colégio e da qual éramos coroinhas. Desceu "escalando" ao contrário, a corda firme entre as pernas, em braçadas seguras, num tempo espantoso para os quase 15 metros, uns 3 andares mais ou menos. Seria imbatível se eu não escorregasse por ela sem me segurar, as mãos sendo lixadas pelo cordoame grosseiro, quase sendo "escalpeladas"... mas, venci ! Dali por diante um despeito surdo se instalou entre nós, misto de respeito e desafio, porém ninguém ficou sabendo do fato, apesar do estado da pele de minhas mãos.

O Tempo não pára mas as alegrias de uma Escola feliz são marcos inesquecíveis... ver a garotada moderna "grudada" em celulares ou sentada horas a fio diante de TVs, jogando intermináveis games repetitivos e violentos, me traz a certeza do quanto perderam em infância sadia, em brincadeiras desafiantes e esportivas, onde adrenalina e suor faziam a gente sentir-se vivo. Foram tempos que não voltam mais... e que tempos !!!

"NATO" AZEVEDO (em 21/abril 2018)

OBS: somente agora, em junho/2020, encontro comentário no portal ALTO PARAGUAÇU DE ANTIGAMENTE, com a afirmação de que se tratava na verdade de VALDIR ANTÔNIO RUTHES e não do Tadeu !