RUA DA ESTAÇÃO
(Diário de minhas andanças)
Costumo despertar muito cêdo e enquanto tomo meu café da manhã,venho dar uma espiada básica aqui no recanto das letras e postar alguma coisa no facebook.
Em seguida,com a câmera sempre inclusa aos meus apetrechos,tomo o rumo do trabalho.Algumas vezes faço o trajeto à pé,noutras tomo o ônibus cujo ponto fica a 100 metros de onde moro.Isso porque não gosto de dirigir.
Meu filho tem o seu carro e o meu está jogado às traças por mais de dois anos numa velha garagem.
[Só Deus - e um bom mecânico - para dar conta do recado o dia em que decidir retira-lo da clausura]
As manhãs de outono em minha pacata Irati,são frias e nevoentas.
Eu,não perco a chance de registra-las:
A caminho da labuta,uma paradinha na matriz de São
Miguel para alguns instantes de reflexão.Sózinho,dentro do templo, um reencontro com meu eu interior e depois, a cidade a meus pés,já que a igreja e o meu local de trabalho situam-se no ponto mais alto da terrinha.
Quando o dia está terminando,busco a rua da estação.
É distante de onde exerço minhas atividades,mas o bucolismo do lugar,a nostalgia instigante que dança pelo ar,provocam-me, então aproveito para exercer o meu hoby de fotografar.
Dentre as particularidades do local,estão os cães que ali perambulam.Estes, apesar de bem tratados,são moradores de rua,fieis acompanhantes de mais de uma dezena de rapazes que elegeram as marquises e os vagões abandonados para fazerem suas moradias.
São educados,extremamente gentis e incapazes de quaisquer atos de vandalismos ou algo parecido.A comunidade lhes é solidária e prevalece sempre uma partilha à eles,os rapazes, e aos seus cães companheiros.
Assim,nas proximidades da praça da Bandeira,estes serenos personagens extravasam suas preguiças caninas,absortos às sobras de sóis do outono iratiense:
A seguir,o que ainda resta de luminosidade promove o mais belo espetáculo da tarde,derramando-se sobre os bancos estendidos ao longo do caminho,sobre as ruas nas proximidades da linha férrea,seus transeuntes,automóveis e ciclistas.
O burburinho da cidade mergulha no âmbar do fim dos dias.
Minha proxima parada é agora, na antiga estação ferroviária.De posse de dezenas de clicks armazenados em cartão de memória,sento-me num dos bancos e feliz ponho-me a ruminar lembranças.
As idas e vindas nos trens de minha infância, os apitos das Marias fumaças, as elegâncias de minha avó e minha mãe rescendendo à lavandas e empunhando malas de viagem.
Anciosas esperas dos comboios que nos levariam a Ponta Grossa em visitas à familiares.
Hoje,na plataforma vazia,apenas a saudade daqele que um dia fui.
Imersas na pasmaceira do dia que esmaece,
uma casa de janelas cerradas e a antiga estação, feito moças maduras pincelam-se aos derradeiros clarões de abril.
Entrego-me aos devaneios num cantinho desta cidade pronta ao primeiro beijo da boca da noite.
Não demora e o ônibus que aguardo me fará atravessar a outro extremo deste meu torrão,cujo bairrismo impertinente que me persegue como se fora uma sina,faz amar cada dia mais.
Joel Gomes Teixeira