A maluca do "stent"
Pois ando bem tararaca com os acontecimentos, os problemas de saúde em família estão me fazendo pirar. Parece que o mundo está desabando sobre mim, dentro do caos, me dedico de corpo e alma à pessoa que sempre cuidou de mim, me mimou e me levou café na cama por trinta e quatro anos. Agora é a minha vez de retribuir e faço isto à exaustão e com carinho, nunca me senti tão forte perante a dor, estou numa nova escola, a da dedicação. Em meio a este furacão de preocupação, medo e dor, também há coisas hilárias, não se pode perder o humor, mesmo diante das tempestades da vida. Nestas idas e vindas, a cabeça vai para o espaço e normalmente esqueço senhas de banco, contas a pagar, perco coisas dentro de casa, isto é corriqueiro. Pois numa manhã destas, ao tirar a mesa do café, em vez de levar o pão para a cozinha, guardei na bolsa que estava sobre a mesa da sala, até agora não descobri aonde eu queria ir com o pão. Aqui em casa os panos de prato vão parar seguidamente dentro do refrigerador e a caixa de sabão em pó, guardo dentro da máquina de lavar, depois fico procurando a triste. Já comeram salada com detergente? Pois sou boa nisto, aquela coisa de pegar o vidro errado, coisa de louco, barbaridade...Era uma manhã e eu estava na correria, tocou a campainha e fui atender, era o motoqueiro com medicamento que eu havia encomendado, peguei a chave da porta, o cartão do banco e o controle do portão, o rapaz era bem cordial, na hora de pagar eu dava para ele o controle do portão, era um quadro de dor, eu insistia em dar o controle em vez do cartão, ficamos por algum tempo naquela batalha cruenta, eu segurava o cartão e entregava o controle da garagem, ainda me dei ao luxo de pensar que ele estava caduco...num lapso, tico e teco pegaram no tranco e acertei, ele ficou me olhando por algum tempo e desatamos a rir. São muitas, muitas as trapalhadas. A maior de todas. Meu “chefe” precisou colocar um “stent” na perna, tortura para mim, odeio hospital, morro de medo, a ponto de ter náuseas e mal conseguir botar os pés no chão, ando em pontas, no primeiro avental branco que vejo, penso que já vou desencarnar, bater com as dez, partir desta para a melhor. O procedimento seria simples, colocação de “stent”, mas sofri como um cão. Por sorte, foi tudo rápido e, dentro dumas, funcionou. De volta da hemodinâmica, eu com os nervos em frangalhos, sempre tendo náuseas e andando na ponta dos pés, me parei junto da cama do hospital, meu apoio era fundamental, – mesmo tendo vontade de pular a janela e me escafeder – notei que havia uma etiqueta colada na perna dele. A etiqueta dizia 2,30m x 1,60m, o “chefe” tentou desgrudar a etiqueta e fiquei tensa, pedi que não tirasse o adesivo, categórica, disse que devia ser a medida do cateter, do “stent”, da veia, da artéria, sei lá, de algum objeto cirúrgico. Chamei a enfermeira e perguntei do que se tratava, sorridente ela respondeu que era a etiqueta do lençol novo, descolou o grude e botou no lixo. Foi aí que vi como sou ruim em medicina, se eu fosse médica, meus pacientes morreriam todos e eu, junto. Continuo fazendo trapalhadas, mas com dedicação, afeto e cuidados.
Beijo a todos!