Apropriação cultural e estereótipos racistas homenageiam o Dia do Índio no Piauí

“Piauí” é uma palavra etimologicamente derivada das tribos indígenas que nestas terras já viveram. Hoje, 19 de abril, o país elegeu a data para lembrar-se daqueles que primeiro habitaram o Brasil. Mas o que deveria ser sinônimo de homenagem, historicamente, foi naturalizado como uma ignorante apropriação cultural e vil disseminação de estereótipos racistas. O respingo na imprensa piauiense surge quando um “jornalístico” de grande repercussão matutina expõe-se ao ridículo, em tentativas pífias de um deboche cômico contra uma população que luta para não ser apagada pelo menos dos livros de história.

Trazendo a discussão do Dia do Índio, “artistas” foram levados ao estúdio do programa “Ronda do Povão”, da TV Meio Norte, para “homenagearem” a data. Uma curta observação denuncia que o mínimo de pesquisa das personagens representadas não foi feita. É claro que pode fazer graça com o assunto. Aliás, tudo é matéria-prima do humor. Mas você consegue rir e refletir acerca de um circo que ridiculariza uma etnia que, ao longo desta semana, realiza vários eventos em Teresina à reivindicação de direitos?

O referido programa televisivo traz conotações que ultrapassam a barreira ética do jornalismo. Não é de hoje, mas diariamente discursos que desmerecem a inteligência do telespectador são transmitidos para uma parcela da população carente de representatividade midiática. Um espaço que deveria ser democrático e público abandona a relevância social para se pautar em interesses comerciais, ironizando premissas básicas, também morais, da profissão.

Mas não há problema em se ter um programa de TV exclusivamente comercial. Afinal, vivemos em uma sociedade capitalista e dinheiro é importante ao nosso contexto. No entanto, quase todos os dias, discursar em prol de um jornalismo como “dever cívico”, “compromissado com o povo” e “responsável com a ética” já é subestimar demais quem trabalha arduamente para reverter o descrédito que existe nos piauienses rente à classe jornalística. É desperdício que chama, não é?

Mais uma vez! Não é arte. Nunca foi nem será. Mais uma vez! Não é jornalismo. Nunca foi nem será. Como última pérola do programa desta quinta-feira (19/04), disponível em www.meionorte.com (programação ao vivo na Internet), caso alguém queira poluir a mente – aquele botão para “desver” seria uma ótima saída para mim –, o apresentador dispara que não será mais taxado de machistas nem de outros “istas” porque lavou a louça de casa, depondo em seu favor enquanto um vídeo o mostra próximo a pia da cozinha.