AÇUDES
O clima da região semi-árida do Nordeste brasileiro é absolutamente imprevisível.
Sabe-se que a precipitação pluviométrica deveria ser concentrada em três ou quatro meses do ano e sempre mal distribuída, conforme definida pelo estudo climático do Dr. Charles Warren Thornthwaite.
Entretanto essa descrição nem sempre se realiza porque são inúmeros os fatores que interferem nas condições climáticas, como desmatamento, aquecimento global, impermeabilização do solo com o aumento das cidades, queima de combustíveis fósseis e o clássico exemplo da ocorrência de El Niño (aquecimento anormal nas águas do Oceano Pacífico) que altera a formação dos ventos alísios e pode fazer com que se passem os anos sem cair sequer uma gota de chuva.
Também há aqueles anos em que as chuvas caem em grandes volumes fazendo com que os rios pulsáticos voltem a correr enchendo açudes, barreiros e causando destruição nos pontos de maior precipitação.
O terreno da região semi-árida é cristalino com camada de solo permeável, quando existente, muito fina e como tal de difícil, se não impossível, penetração.
Por conta disso, esse pouco solo é carreado pela enxurrada deixando a rocha nua, onde só cactos e bromélias conseguem se adaptar.
Os governos sempre incentivaram as construções de açudes para represar as águas das chuvas, mas fora os grandalhões como Orós, Castanhão, Coremas, Boqueirão, etc. nunca disponibilizou gente capacitada para orientar as construções desses açudes que via de regra são feitos por operadores de máquinas alugadas pelas prefeituras ou pessoal com pás, enxadas e carriolas de mão sem as técnicas de engenharia que garantam integridade e durabilidade.
Nesta segunda semana de abril, por conta da formação da zona de convergência intertropical choveu como todos os diabos nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará que fazem o conjunto mais crítico em termos de escassez hídrica daquela região.
Como era de se esperar, os pequenos açudes que não possuem sangradouro impermeável, rota de fuga para o excedente da sua cota máxima, cujas paredes não são concretadas e construídas sem quaisquer elementos aglutinantes ou formatos adequados para aguentar o peso da água, se romperam maximizando os estragos que os quase cinco anos de seca causaram.
As águas que escorreram para o mar levaram consigo, mais uma vez, a esperança de boa safra, mas deixaram a certeza de que somente quando houver ensino formal de boa qualidade, forem aplicados os conhecimentos de engenharia adaptadas às condições geológicas e houver a aplicação das técnicas de convivência com o semi-árido é que o fantasma da miséria será de vez afastado da vida dos seres humanos daquela região.
Até lá permanecerão rogando melhores dias ao deus cego, surdo e indiferente.