Eu estou diferente
Ontem dormi mais tarde do que de costume, mesmo com o receio da indisposição que me acometeria pela manhã.
Hoje, poucos minutos antes do primeiro alarme tocar, eu abri os olhos e percebi que, estranhamente, eu estava descansada.
“Hoje foi meu Pai quem me acordou”, eu pensei.
“Bom dia, Deus!”
Como de costume, permaneci deitada até o próximo alarme tocar (geralmente isso não é uma escolha).
No limite de meu horário, levantei-me num único impulso e cumpri meu protocolo diário.
Caminhando até estação senti como se algo em mim pulsasse mais forte, o sangue parecia correr mais acelerado.
Eu estava diferente.
Eu sentia sono ao mesmo tempo em que me pegava disposta e ansiosa. “É como se nada pudesse me parar”, pensava.
Eu estava diferente.
Costumo sentir medo de dias que começam muito bem, porque normalmente terminam muito mal, mas... inexplicavelmente, eu só consegui sentir paz.
Eu estava diferente.
Passei o dia controlando a perna ansiosa que não parava de se debater, os pensamentos agitados que não se organizavam, as mãos que revezavam entre tremedeira e endurecimento.
“Parece até que tomei uma garrafa de energético”, lembro de ter pensado.
Eu estava diferente.
Percebi minha barriga gelada, minha respiração mudando o ritmo... Eu estava ansiosa, mas não era aquela ansiedade ruim.
Era diferente.
Era algo bom, como se me preparasse para uma grande e boa novidade que, no meu íntimo, eu sabia que não viria. Nada de extraordinário aconteceria e isso fazia tudo parecer ainda mais estranho.
“Parece até que me apaixonei”, pensei enquanto lembrava, entre sorrisos, da última vez que me senti assim.
Então, eu me peguei pensando que a chance de viver mais um dia já era algo suficientemente extraordinário e que a paixão pela minha própria vida foi fruto de dias em que me permiti acreditar que felicidade não é estar, é ser - apesar e por causa de tudo.
“Eu tenho Deus”, disse a mim mesma, “e, por agora saber que O tenho, até o mais comum dos dias ganhou vida e cor de uma forma que eu ainda não conhecia.”