As farmácias de hoje
2018. Muitos de meus antepassados não acreditavam que passaríamos sequer do ano dois mil, como, segundo eles, asseverava as Escrituras. Lembro que, quando menino, era-me comum ouvir sujeitos de cabelos grisalhos a meu redor falarem ''O ano dois mil não chegará''. Para muitos deles, é verdade, o ano dois mil de fato não chegou, que morreram antes. No entanto, para mim e para os que permanecem ''vivos,'' chegou o ano dois mil e muitos dos seus sucessores. Aqui estamos, em 2018, sem previsão de fim de mundo. Infelizmente. No entanto, nas horas vagas, nos momentos de sonambulismo, me contento com imagens mundanas, imagens de fim de mundo. Coisa de que o mundo atual está repleto. As farmácias de hoje são um exemplo bem-acabado de tais mudaneidades.
Estes dias, vagando pelo centro de União, fiz um breve inventário de quantas farmácias temos atualmente. O número me assustou: aproxima-se de dez apenas no centro de uma cidade interiorana de uns setenta mil habitantes. Situação bem distinta da de uma década atrás, quando tínhamos, salvo engano, duas ou três. De lá para cá, as farmácias proliferaram-se, e o Mercado explica.
A começar pelo nome, que se tornou anacrônico. Hoje temos poucas ''Farmácias'' e muitas “Drogarias”, que se unem em Rede. Se antes para nos salvar de dor de dente, frieira, resfriado recorríamos a benzedeiras, remédios caseiros, chás muitos, agora temos nas drogarias farmacêuticos, sujeitos de saber universitário, que nos prometem antídoto para esses e outros diversos males outrora desconhecidos. Assim, tem-se diminuído o número de benzedeiras e remédios caseiros; e em contrapartida, crescido o número de farmacêuticos e remédios industrializados à disposição de quem pode pagar por eles.
As farmácias de hoje são um assombro. Cada vez maiores e mais distantes de nós, apesar de em alguns casos estarem a alguns metros da esquina de nossa casa. É um ramo dos mais lucrativos dos tempos atuais; lugar onde podemos encontrar quase de tudo, desde conveniência, de itens beleza, de higiene a serviços bancários. Ambientes sofisticados, cujos atendimento em alguns casos é feito por máquinas, cujas portas abrem-se sozinhas, e onde é possível até fazer refeições… Não tardará, penso, quem sabe, até casamentos serão celebrados nesses locais. E isso não será presságio do Fim do Mundo, mas, ao contrário, sintoma do início do mundo. De um mundo que veio para ficar.