Como somos injustos
Brigadeiro, quem não se lambuzou com as pequenas bolinhas de chocolate em festas de aniversário? Laka, a opção mais antiga para quem gosta de chocolate branco; Sonho de Valsa, tem até conotação romântica, invólucro desta delícia registrou, e marcou na memória, tempos literalmente doces.
Bacon, os primeiros X Saladas, num inglês equivocado, vinham salpicados deste delicioso toucinho defumado; o ovo frito com muito bacon não podia ser chamado de “zoião”, tudo ganhava cor e sabor com as deliciosas tirinhas de gordura suína frita e defumada.
O pão nosso de cada dia, quase que argumento de uma oração não pode se transformar num condenável carboidrato, e mais ainda besuntado com muita manteiga, não pode constar da lista dos proibidos.
A feijoada, o torresmo, as frituras, particularmente a batata, o presunto gordo, o salame, com incontáveis sardas de gorduras, a picanha, e a fantástica lingüiça cuiabana, por onde andam?
A melhor refeição, aquele enorme prato de arroz com feijão, à meia noite, voltando faminto da rua e assaltando a geladeira, quantos deliciosos pesadelos já nos causaram; como cometer um dos 7 Pecados Capitais era delirante e de uma infernal inocência.
Mas de repente, não mais que de repente (diria Vinícius de Moraes), vieram a diabetes, o infarto, o colesterol, para cada prazer veio uma condenação, que nos fizeram abandonar, literalmente botar na geladeira, tudo aquilo, que tanto nos proporcionou de alegria... não é justo.
Contrito peço perdão à costelinha de porco; à manteiga Aviação, que tantas de minhas artérias entupiu; ao feijão preto, prova cabal de que nunca fui preconceituoso, e ao torresmo, do qual me lembro com lágrimas nos olhos.
À cerveja, que nunca foi meu vício, foi mais minha jangada da salvação, também acabrunhado, peço perdão.
Não é um arrependimento sincero, pois de novo, de novo tudo voltaria a cometer, se pudesse recomeçar, e se fosse um pedido de perdão sincero eu não estaria, como estou, dizendo obrigado aos meus pecados.