O menino solitário

O dia era longo, quase não passava.

Como se cada segundo fosse uma eternidade e aliás, era.

Tão sozinho estava com minha insignificância enquanto aguardava a noite chegar. Da varanda, ouvia os suspiros do ar, a sorridente beleza das flores e seu adorável perfume. Entretanto, o que fazia do dia algo menos tortuoso não era aquilo, o simples ar que respirava; só aquilo não bastava.

Eu precisava de algo mais.

Os dias eram longos, as noites curtas e, no conforto de meu travesseiro, ou na aconchegante poltrona da sala, pensava no que me faltava. Pensava naquilo que completaria meu dia. Queria fazê-lo melhor, mas sinceramente, eu não sabia como.

Certo dia algo mudou minha triste rotina, alegrou minhas manhãs e deslumbrou minhas tardes. Era algo tão simples, e quase que inútil imaginar que a minha vida se alegraria com tão pouco, com tão pequenas coisas.

A visita de um beija-flor naquela manhã ensolarada mudou meus dias, o vazio se fechou.

É muita ambição esperar sempre muito, quando precisamos de tão pouco, a falta que a falta faz talvez seja um dilema, um fato.

Mas isto é evidentemente verdadeiro.

Minha solidão tinha começado a acabar. Depois dessa visita, vi que eu e todo o mundo estávamos errados; definitivamente descobri que somos errados.

Eu nunca esperei que um pássaro mudasse minha vida. Estava tão ocupado pensando no que faltava que não percebi que a felicidade visitava em todos os longos dias meu quintal, e tentava se comunicar comigo dizendo: "Olhe ao seu redor!"

Acredito que as pessoas de todo o mundo também estejam procurando algo a mais para suas vidas, mas assim como eu, demoram para encontrar ou nem mesmo as encontram.

Para um menino que vivia solitário, não sou a melhor pessoa para dar um conselho de como ser feliz, mas vejo que posso ajudar em algo.

Nossa felicidade só depende de nós. Somos nós mesmos que temos de procurá-la. Para isto devemos observar ao nosso redor e buscar um sorriso nas coisas simples da vida, tais como conversar com alguém, ajudar o próximo, regar as plantas, ouvir música, caminhar por lugares que amamos, fazer aquela comemoração com amigos, até rir do vento.

São muitas coisas que podem fazer do nosso dia feliz e às vezes não damos valor. Eu passei muito tempo reclamando da solidão em que vivia, da ausência que sentia até que, quando menos esperava, voltei a sorrir de novo.

E tudo isto por causa de um simples pássaro.

Ele todos os dias estava ali bem próximo, alegre por estar vivo, por estar coletando o néctar das flores de um jardim em frente à minha casa.

Quem sabe aprenderemos um pouco mais com a simplicidade dos animais que o que nos faz felizes pode estar onde menos esperamos. Em alguém e não em uma coisa.

Eu reclamei um bom tempo da solidão, e hoje reclamo por ter deixado que minha preocupação em ser feliz me fizesse pensar no que faltava e não em viver pequenas alegrias que estavam à minha volta.