IV Campeonato Mundial de Futebol - A Tragédia de 1950
Em 1950, aqui no Brasil, perdemos a IV Campeonato Mundial de Futebol, para o bairrismo. A seleção era praticamente todo o time do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, com alguns jogadores de outros times. Desprezamos a experiência adquirida no campeonato Sul-Americano de 1949, no qual o Brasil foi campeão. Naquele torneio o Brasil marcou 45 gols e sofreu apenas cinco, em sete partidas. A nossa seleção, em 1949 no sul da americano realizado no Brasil, tinha como base Barbosa, Augusto e Mauro Ramos de Oliveira; Bauer, Danilo e Noronha; Tesourinha ou Cláudio Cristóvão Pinho, Zizinho, Ademir de Menezes, Jair da Rosa Pinto e Simões. E na reserva o Brasil ainda contava com dois monstros sagrados já com experiência em seus clubes de origem Nilton Santos no Botafogo e Djalma Santos na Portuguesa de Desportos. Além de Rodrigues, ponta esquerda dos bons, que tinha ido do Ypiranga de São Paulo para o Fluminense, do Rio de Janeiro.
Mas com as intervenções estranhas que o senhor Flávio Costa não podia controlar desprezamos o bom momento de 1949 e formamos assim para a Copa de 1950: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer; Danilo e Bigode (só na defesa foi feita grande injustiça, pois Mauro era melhor, e muito, do que Juvenal, e Noronha, ou Nilton Santos, eram quilômetros superiores a Bigode). A linha do Brasil, o trio atacante, era excepcional sem melhores do Brasil. Zizinho, Ademir de Menezes e Jair da Rosa Pinto não tinham concorrentes.
Entretanto os nossos pontas Friaça ou Maneca pela direita e Chico na esquerda eram muito inferiores a Tesourinha e Cláudio Cristóvão do Pinho, na direita, e a Rodrigues ou Simão na esquerda. Mesmo assim chegamos à final depois de golearmos a Espanha por 6 a 1 e a Suécia por 7 a 1 e fomos enfrentar o Uruguai muito nosso conhecido de inúmeras Copas Rio Branco.
Não demos o devido valor ao adversário. A seleção uruguaia estava um pouco envelhecida com muitos jogadores veteranos, como Maspoli, Tejera, Gambeta e Obdulio Varela. A nossa seleção se concentrou no Rio de Janeiro. Mais tarde, alguns anos depois, vários jogadores disseram que na véspera do jogo decisivo não puderam repousar, e ficaram a disposições de emissoras de rádio e jornais para entrevistas. Aí deu no que deu.
E eu, como todo brasileiro, acreditava no Brasil. Ainda não havia televisão e então, uma multidão na qual me incluía, fomos acompanhar pelo rádio o jogo no Largo do Rosário, aqui em Campinas. A partida foi transmitida através de vários alto-falantes. Havia muita coisa preparada para a festa. Naquele tempo não se usava por a camisa da seleção. A emoção era enorme. E o Brasil precisava de um empate para ser campeão. Quando Friaça marcou o gol do Brasil, isto aos 47 minutos, a comemoração foi estrondosa. Porém, mais alguns minutos depois o Uruguai fez 2 gols. Foi inacreditável. Perdemos a Copa mais fácil de ser ganha. Por todo o Largo do Rosário era choro e desmaio. Uma tristeza geral. Eu com os meus 16 anos tive de amparar uma senhora que estava preste a cair no chão. Ela pôs a cabeça no meu ombro e chorou muito. Tentei reanimá-la dizendo: “minha senhora isto é um esporte. Nós ainda somos jovens. veremos o Brasil ser campeão do mundo”. Aí ela recobrou a firmeza e me disse: “obrigado pelo ombro amigo”. Deu-me um beijo na testa e se foi.
O vira-latismo de 2014 nem de longe pode ser comparado a tragédia de 1950.