Crônica de Rememórias

Crônica de Rememórias

Clevane Pessoad e Araújo lopes


Recebo, de Terezinha Pereira, acadêmica da APL, os resultado do I Concurso de Redação Clicknet.
Cuidei da infância e da juventude durante uma vida enquanto psicóloga,na visão de atenção integral à infância e à adolescência.Sempre trabalhei com equipe inter e intradisciplinar, com temas transversais- e mesmo no consultório, usei arte e letras como recurso terapêutico...

Quando incentiva a escrever, muitas vezes, acaba descobrindo talentos, vocação paraas letras se evidenciava,Já prefaciei ou revisei livros de ex-pacientes.Certa feita, recebi um vídeo de S.Luiz,Maranhão flash de quando um deles, que escreveu muito durante o processo terapêutico, fez um artista declamar um de meus poemas,para um programa de Tv,ele próprio um poeta e hoje, jornalista.

Em oficinas com adolescentes, sempre enfatizo o uso de textos literários.

Em Mariana, outra cidade mineira, aaliás, a primaz,alunos andam de braços de a poesia,com a arte.Há poucos dias, Andreia Donadon transmitiu-me o pedido de uma professora (Sãozinha)a quem conheci no Museu Alphonsus de Guimaraens(*), para que lhe enviasse poesias no tema anjos(já publicados neste blog, para , com os dela, Andréia (****)e seu esposo Donadon, professor da UFOP, fossem declamados em setembro.E causa-me prazer saber que os aldravistas, Gabriel Bicalho, Sebastião Ferreira e Andréia, levam haikais à escola.Ensinar a sutileza poética oriental, é realmente, refinar a sensibilidade dessas crianças, tornem-se elas,quando adultas, poetas ou não...Mas bem sabemos, todas as crianças , nascem poetas;a vida pode calejar e bloquear a beleza, Mas ela reside no interior das pessoas.

Uma garotinha, de uns três anos,batizada pelos pais, com o nome de Arco -Íris(mas registrada "Íris!", neta de minha especial amiga a poeta e ceramista Enedy Odette de Miranda Sá) no jardim de minha mãe, enquanto o pai lhe dava, no verão , um banho na torneira da mangueira,olhou para o céu,onde nuvens plúmbeas fecharam subitamente a claridade,prenunciando chuva e, rindo, exclamou:
"-Olhem!Papai do Céu apagou a luz!"

Por esses motivos, e mais outros, e outros ainda, venho de aplaudir esse concurso.O primeiro concurso onde se foi classificado, nunca esquecemos - e a motivação para ser um poeta, um cronista, um escritor, pode ser reforçada então.Parabéns aos jovens autores.E aos educadores.E aos organizadores.

Ontem , recebi um e -mail de Ana Luiza Camargo, engenheira,poeta e autora, inclusive, do tocante "A Insistência da vida"(**),já resenhado por nós neste blog,
perguntando se eu sabia que , em Juiz de Fora, o grande Poeta e pesquisador Domervilly Nóbrega, seu tio "Vivi", teria um livro sobre ele, a ser lançado quando seu imenso acervo for doado à Universidade Federal de JF.Que, por tê-lo conhecido pessoalmente, se eu gostaria de escrever a respeito dele, pois a coletânea ainda não havia ido para a gráfica.

Imediatamente, lembrei que meu primeiro troféu (primeiro lugar em crônica), foi justamente o Troféu Domervilly Nóbrega, homenagem da Rádio Industrial de Juiz de Fora, através do jornalista e trovador José Carlos de Lery Guimarães, que em seu programa diário "Contraponto",incentiva as Artes e as Letras da chamada "Manchester Mineira".

Eu mandara pelo Correio,uma crônica para cada tema, recordo apenas dois: Satélite e Operária.Fugira ,para ser original,propositalmente da temática óbvia, mas depois que, para esse primeiro, falara de pessoas a gravitar em torno de outras-e não de astronomia - e , para o segundo, discorrera sobre "Mãe', a operária completa,entrei em parafuso.Queria fazer outros.Temia ser publicamente criticada.Enfim , mil conflitos na jovem cabeça.
Um dia, a vizinha atravessa a rua correndo e gritando meu nome, dizendo-me para ligar o rádio, pois eu ganhara o primeiro lugar em um concurso.Era uma senhora jovem , com filhos pequenos, que gostava muito de ler, trocávamos livros e revistas - e ela me incentivara a concorrer.

Fiquei "pasma", porque escritores já renomados na cidade, estavam no terceiro e no segundo lugar...Mas a sensação inconfessável, foi fantástica e penso que, quando afinal, mamãe convenceu-me a marcar para receber a premiação (eu era tímida, não queria aparecer perto dos escritores "de verdade'), minha carreira de escritora ficou definida.Fiquei mais ousada, levei meus escritos aos jornais da cidade, fui chamada por todos , mas optei pelo oficial da cidade, a Gazeta Comercial.Entrei como cronista , acabei ocupando todos os espaços disponíveis ,cobria férias dos antigos jornalistas-e ainda ,pedi a página central, domingueira, para fazer literatura. Jamais me arrependi de ser repórter na Gazeta, que afinal,pagava bem menos que os demais diários, mas que me dava a liberdade de ser que sempre prezei.

Ali, divulguei quem pude, de Minas, do País, do Exterior.Pelo meu trabalho, fui indicada pelo desembargador Vasques Filho(*****), de Fortaleza, para o Instituto de Cultura Americana sendo então nomeada Delegada Ad Honoren , pelo Uruguai(um país sempre representava outro e pela ARIEL, Associação de Livres Pensadores, por Portugal).Olhem aí as sementes.Acabei, neste ano, em montevidéu, para o VIII Encontro ABrace - participo de duas de suas antologias(Cuento-Gotas e Letras de Babel), tantos anos depois e ainda , mantenho excelentes relações com Portugal.

Neste ano em que faço meus 50 anos de Poeta (embora escrevesse e fizesse saraus desde sempre, poesia só brotou-me aos dez anos), recebo, muito honrada e comovida,do Clube Brasileiro de Língua Portuguesa, o título de "Poeta Honoris Causa", pelas mãos da presidenta Silvia Araújo Motta e de D.Conceição Piló, curadora no palácio das artes e Representante da IWA.
Esse título, diz o certificado, abarca oito países lusófonos , 250 milhões de pessoas.

Conto isso, para mostrar que a semeadura, deve começar cedo,senão, as vocações se fecham quais pérolas em ostras que jamais sairão do fundo do mar abissal das convenções e oportunidades negadas.

O Cosmos está alerta e conspira a nosso favor, quando lançamos as sementes - quem tem mais de cinquenta anos, pode ver confirmada essa premissa.

As crianças e adolescentes possuem um potencial imensurável para aprender de tudo.Tolo o que pensa serem os mais jovens incapazes de fazer isto ou aquilo.Dentro dos limites e litações de sua faixa etária, se empoderados pelos mais experientes, podem alçar võo- e ser.

A longa preleção é mesmo para parabenizar a Academia de Letras de Pará de Minas,agradecer o envio do resultado acima à Terezinha Pereira, ela própria ,autora infantil também e uma grande incentivadora da criança de sua terra,além de ser contadora de histórias - e ainda, para lembrar Domervilly Nóbrega(***), o historiador, pesquisador e trovador e poeta mineiro .Perto dele falecer, quando telefonei dizendo-lhe que , quando fosse a Juiz de Fora,iria entrevistá-lo,ele me ofereceu seu livro, feito para ele,pelos filhos, com poemas para a esposa, se não me falha a memória.

Enquanto conversávamos, estudantes se movimentavam em sua casa,ele contou que praticamente , vivia na biblioteca.Que os acadêmicos estavam ali, catalogando e organizando seu acervo.Não houve tempo dele enviar-me o livro-que descreveu ,feliz," uma linda edição".Eu saíra da cidade no final dos Anos 70 e depois acompanhara o marido engenheiro pelos brasis, não sabia dessa publicação.


Transcrevo:

http://www.acessa.com/arquivo/jf150anos/3107/

Dormevilly Nóbrega
"Dormevilly Nóbrega é um dos mais importantes historiadores de Juiz de Fora. Além de escrever livros sobre a cidade, mantém em sua casa uma biblioteca de mais de dez mil exemplares, muitos deles sobre a história do município. Foi vereador e um grande benfeitor para a memória de Juiz de Fora, fundando o Museu da Imagem e do Som. Aos 78 anos de idade, Dormevilly vive em sua biblioteca e sabe identificar cada um dos exemplares, ajudando os pesquisadores diariamente. Nascido em Três Corações, no sul de Minas, Dormevilly Nóbrega foi jornalista em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Na capital de Pernambuco, conheceu sua esposa, Darcília, com quem teve três filhos. O jornalismo foi a grande paixão de Dormevilly, que começou cedo. Aos 13 anos de idade, já era tipógrafo no jornal Folha Mineira. Três anos mais tarde, atuava como jornalista , cobrindo os mais variados assuntos. Trabalhou na Gazeta Comercial, Diário Mercantil e na segunda publicação da Revista Marília. Ainda como jornalista, foi correspondente no nordeste de jornais e revistas. Dedicou-se ainda a dar aulas de português, geografia e desenho. Como todo bom boêmio, Dormevilly Nóbrega fazia serenatas com os amigos pela Avenida Rio Branco, foi também cantor de boate, rádio e serestas. Desde a morte da esposa, dedica-se exclusivamente à sua biblioteca e mora junto às seis salas repletas de livros.
Créditos:
Texto e áudio - Equipe de Jornalismo Rádio FM Itatiaia JF
Edição Internet e recursos digitais - Equipe JFService / ArtNet "

(*)No Museu Alphonsus de Guimaraens, em Mariana, aconteceu o encerramento da I Exposição Aldravista de arte Internacional, onde fui muito bem acolhida,convidada apara ali fazr o lançamento de meu livro de "Mulheres de Sal, Água e Afins"
(**)Em "A Insistência da vida-Uma Viagem chamada Brasil", Ana Luiza Camargo narra a saga de seus avós, Albert e Gretchen Bauer, que vieram após a segunda GGM, para nosso País, com a filha Renate, minha amiga de infância, casada com o engenheiro Celso Brasil Camargo, sobrinho de Domervilly.
Essa talentosa escritora e delicada poeta,
que mora, com a família, em Florianópolis,descobriu-me pela Internet ,reestabelecendo os doces laços da amizade..

(***)Ele é pai do artista Daltony, cantor e ator..

(****)Deia Donadon, conforme Andréia assina suas telas, pintou uma série de anjos negros, que me inspiraram um dos poemetos sobre preconceito (está aqui no blog e no Recanto das Letras)

(****)Na semana passada, abrimos "Comentários" e encontrei um delicado agradecimento de Antonio Vasques,filho de Santiago Vasques Filho, já falecido - pela maneira com que me referira a seu pai em minhas memórias.Não poderia deixar de ser de outra forma:um desembargador, poeta e artista plástica,dar um máximo de atenção a uma jovem inexperiente, a querer aprender e apreender, na univesidade da vida,enquanto militava na imprensa?Comentar seus versos e trovas, oncentivar e a indicar para instituições internacionais?Ah, o que um adulto pode fazer por uma pesoa inexperiente, no lugar de depreciá-la, é fundamental!
Vou xerocar as longas e perfeitas epístolas e lhe enviar.O livro póstumo, belíssimo, "FOLHAS MORTAS"(Tão vívidas!) acaba de chegar , com os cumprimentos da família,e vou comentá-lo longamente aqui em breve.

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

http://www.clevanepessoa.net/blog.php
clevane@yahoo.com.br