A César o que é de César

Como usuário do transporte público tenho visto e participado de episódios que, às vezes, me fazem descrer da capacidade das pessoas de serem sociais. Um desses episódios deixou-me muito incomodado, pois refletiu uma característica bastante desagradável do comportamento do brasileiro, o de querer levar vantagem.

São 05h47min da manhã, Terminal de Passageiros Lagoa – Fortaleza, parada do ônibus João XXIII/Centro. Na fila estão duas senhoras na minha frente. Depois de alguns minutos de espera chega nosso ônibus e quando as portas se abrem um rapaz, não se importando com a nossa presença, acintosamente passa a nossa frente e entra no coletivo.

Este episódio banal, mas de repercussão social extrema, expõe com notoriedade um estereótipo (dentre outros) pelo qual o brasileiro passou a ser conhecido, ou seja, alguém ávido em levar vantagem. Tal regra de conduta também passou a ser conhecida como o Jeitinho Brasileiro. Existem exceções? Claro que sim, ainda bem, caso contrário seria o nosso fim. Este comportamento não leva em conta ética, moral, sociedade ou qualquer outra aspecto de civilidade e convívio – é a “Lei de Gerson” posta em prática e consolidada, acreditem, em se ganhar um lugar de fila.

Ainda no coletivo, pouco tempo depois de deixar o terminal, ocorreu outro episódio. Este, digno de esquecimento, para não estragar o dia já nas primeiras horas. No ônibus fiquei em pé ao lado de um assento que estava ocupado por duas senhoras. Depois de percorrer alguns quarteirões uma delas se levanta e imediatamente outra pessoa passa por mim e põem uma bolsa sobre o assento, como que dizendo: Ele é meu! Feito isto se apoderou dele. O estimado leitor, talvez ache que estou dando importância demais a coisas simples. Concordo! E é exatamente esta a questão. A simplicidade de um lugar em uma fila ou assento.

Eu vejo nestes acontecimentos, simplórios até, exemplos da incapacidade do brasileiro de respeitar coisas simples. Na parábola do administrador infiel, o Senhor Jesus diz aos seus discípulos que se alguém não consegue ser fiel no pouco também não será fiel no muito (Lucas 16:10). Há pessoas que exigem direitos, dos quais às vezes nem possuem, mas esquecem de que estes estão associados a uma contrapartida que requer o cumprimento de deveres. Compreendendo e aceito que a justa ordem social deve se alicerçar sobre o que é correto e verdadeiro e que seus participantes devem se empenhar em praticá-la. Um povo incapaz de respeitar um simples lugar de fila, cujos membros usurpam uns dos outros seus direitos ainda está engatinhando sem conseguir dar seus primeiros passos no caminho da civilidade.

Lembrando, mais uma vez, as palavras do Senhor Jesus ao dizer: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mateus 22:21). Acredito ser esta a receita da felicidade terrena.

Quinho Barreto
Enviado por Quinho Barreto em 13/04/2018
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