A Capacidade de Viver
A Capacidade de Viver
Toda vez que vou a Paraty, eu encontro o casal de idosos que me leva a pensar o quão bom é o amor perene. Ele, um sujeito como um malandro carioca contador de causos, Ela, uma nobre bela escritora. Talvez haja uma identificação com o par devido a essas aptidões tão ligadas a mim, mas o que mais me chamou a atenção é imagem dos cônjuges a andejar todos os dias entre os verdes do Portal das Artes a caminho do Centro da Cidade.
Hoje eu observei o elegante andar da dama a comandar os passos do bailador que a protegera com sua ginga a ser vendido na beira da estrada, é a forma de conduzi-la nobremente.
Um restaurante sobre as pedras os esperava e a água do mar invadiu o cais. A chuva estava a cair demasiadamente a enfeitar suas mentes, donas da mais bela miragem. Havia pedregulhos ao fundo dos espelhos de bela moldura e os peixes visitavam as ruas a embelezar o mundo deles. Ruas que refletiam as estrelas de diversas grandezas, a que abrilhantava o dia dele, a que aquecia os livretos da mesa e a que caía a trazer coisas do acaso. O deguste do robalo foi acompanhado de um delicioso vinho que literalmente beneficiava os seus corações e ao chegar do vento lento, marido e mulher voltaram para casa no mesmo trajeto e com o mesmo cuidado recíproco. A lua desfazia o cenário da mais bela pintura a levar de volta a água do mar e refrescava mais uma vez o aconchegante ninho dos passarinhos que cantavam seus causos e suas poesias.