O homem que passava pela rua

Depois de um dia fardo, com os seus problemas habituais. Como cada pecinha que compõe os dias e cada dia é algo para se resolver, é algo para fazer, é algo para sentir, é algo para descobrir, é um pouco de tudo e cada parte desse quebra-cabeças é importante para o resultado final. Cada segundo de pensamento, de vida, é importante.

Depois de um dia fardo ele chegou em casa cansado, estressado sem vontade de fazer nada. Se jogou na cama, ligou a TV e dormiu. Pela janela entrava uma vento frio, que o fez acordar. Levantou, tomou um banho e decidiu descer para tomar uma cerveja no bar da esquina. Sentado, olhando o jogo que passava na TV.

Um homem que andava torto pela calçada, o homem falava sozinho, estava com roupas velhas e rasgadas. O homem agachou e pegou umas latinhas no chão. O homem andava torto, falando sozinho.

Será que esse homem já amou? Será q tem família? Será que esse homem já viveu histórias inesquecíveis, que tem lembranças de uma vida boa? O que aconteceu na vida desse homem para hoje ele estar aí perambulando falando sozinho?

O homem tinha uma namorada que largou ele por outro cara. O homem tinha um emprego, do qual não gostava e no fim foi demitido. Esse homem tinha família que não se fazia presente. Ele não tinha amigos fiéis. Ele descobriu que ele não tinha nada.

Deu-se conta que não existia razão para ele existir, não tinha propósito. O homem anda por aí, procurando alguma resposta, e as vezes apenas querendo esconder a dor. Pede dinheiro na rua, come algo do lixo. Bebe, usa droga. Tudo para tampar o buraco, o imenso vazio que é o seu existir.

Ele acredita em Deus, mas não tem fé. Ele acredita no amor, mas não que pode amar e ser amado por alguém. Ele acredita e sua crença é seu vazio. Por não conseguir mais acreditar em si mesmo.

O homem que passava pela rua olhou para o homem que estava sentado tomando uma cerveja e pensou: será que ele tem família? será que tem amigos?será que ele ama alguém? Será que ele é feliz? Será que ele tem um dinheiro pra me dar?

O homem que passava pela rua se aproximou do homem que estava tomando uma cerveja, se aproximou, e quando chegou bem perto levou um susto.

O homem que tomava uma cerveja era ele mesmo.

O homem que passava pela rua e o homem que tomava uma cerveja eram as mesmas pessoas, porém em realidades e tempos diferentes, e por conta de um paradoxo do tempo as duas realidades se cruzaram.

O homem que tomava uma cerveja, que tinha emprego, namorada, apartamento, família, amigos e um status social era o mesmo homem que andava esbodegado pelas ruas, pegando latinha, fugindo de si mesmo e da dor que carrega. Os dois homens sem fé, sem amor, sem acreditar em si mesmo.

O homem que andava pela rua e o homem que tomava cerveja se olharam por alguns segundos, depois disso, o homem que andava pela rua seguiu seu caminho. O homem que tomava cerveja pediu a conta. E os dois nunca mais se viram.

Brenner Vasconcelos Alves
Enviado por Brenner Vasconcelos Alves em 11/04/2018
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