O NOME (E O HOMEM) DA MUDANÇA

Claudio Chaves

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A militância do PT se acovardou diante do impedimento de Dilma. Em parte, porque não estava tão preocupada com um projeto de esquerda ou de país, mas com uma personalidade: Lula. Se a preocupação do PT com a sonhada e tão decantada revolução da classe trabalhadora e a construção de um novo projeto de nação tivesse acima do culto à Lula, hoje, este poderia está (como está) preso, mas Dilma seguiria governando; e o projeto continuaria.

Não faz sentido recuar diante do sequestro do mandato de uma presidente legitimamente eleita para, em seguida, querer ir até às últimas consequências para manter como símbolo máximo do ideário revolucionário popular alguém que, embora faça jus a todo o reconhecimento (e até a mais) que tem, enfrente, depois de dois mandatos seguidos e escapes quase miraculosos de vários processos e dezenas de denúncias (além do envolvimento com gente perigosíssima), o enorme desgaste político natural de situações como esta. Isso é um ato de quase insanidade.

Obviamente, a estratégia poderá até dar certo; mesmo assim, só pela relação custo-benefício, ainda continuará fazendo pouco sentido.

Por que Dilma, mesmo tendo sido eleita com o esforço dessa mesma militância, e sendo reconhecida por ela como vítima de um golpe, não recebeu esse mesmo apoio? Por que não causou as mesmas comoção e indignação? Porque, como sempre reitero, no Brasil não existe projeto de País, de Nação, nem de Estado, quiçá, em alguns casos, de partido ou de outros grupetos.

Se, de fato, temas como ética na vida pública, patriotismo, defesa irrestrita da Democracia e das liberdades essenciais – e não apenas interesses e vaidades pessoais ou de grupetos – fossem um interesse natural do brasileiro, jamais teríamos chegado onde estamos. Empresários não teriam, por séculos, corrompido governantes e candidatos em troca de obras e lucros; governantes e candidatos não teriam, também ao longo de séculos, subornado empresários para se manterem, indefinidamente, no poder; as maiores empresas do país jamais se negariam a reconhecer e honrar suas dívidas (principalmente as previdenciárias) para forjarem um ambiente propício à espoliação e subtração de direitos dos desfavorecidos; magistrados não teriam sucumbido (como virou praxe) à tentação de reformar as leis (incluindo a Constituição Federal) – transformando a Justiça nesse pandemônio, essa casa de mãe joana, que ninguém sabe mais diferençar a cozinha da sala de estar – ao invés de as cumprir e assegurar-lhes o cumprimento; e o cidadão comum, por sua vez, se, de fato, quisesse viver em um país descente, não se faria, como acontece o tempo inteiro, de rogado, resistindo até à morte tomar parte na vida pública, sob a alegação infantil e bizarra de que pagar impostos e votar (que também, no Brasil, é imposto) é fazer a sua parte. Também jamais aceitaria trocar de discurso e de posição conforme o atendimento às suas demandas particulares, outra prática (repugnante) que em nenhum outro lugar do mundo encontra tanta guarida quanto no seio de nossa Pátria Mãe Gentil, em todos os níveis sociais e econômicos, em todos os credos, filosofias e categorias.

RESUMO:

Quando o brasileiro, de fato, quiser um país diferente, ele para de esperar e bravatear: torna-se uma pessoa diferente. Pode parecer utopia, mas os países que conseguiram não foram a Marte ou ao Mundo Encantado de Oz atrás de nenhuma fórmula mágica; apenas agiram assim.

Nosso maior problema é que todos queremos mudar o país, mas quase ninguém quer mudar a si mesmo; e o país não são os marcianos; somos nós; o país é o que cada um quer que ele seja. Quando, de fato, essa patifaria nos incomodar (se incomodar algum dia), como é espontânea e quase involuntária a conformação, será a transformação.