MEU SEMÁFORO.
Este poema me fora enviado por um amigo correspondente: Isaac. Lá se vão mais de quarenta anos... e se bem me lembro ainda, era este o nome que assinava em suas missivas.
Jamais nos encontramos pelas esquinas da vida. Conheci-o somente por foto e por correspondências, via correio. Embora a sua condição de presidiário naquela época, sempre se dirigiu à minha pessoa de modo respeitoso, educado e sem tirar qualquer proveito em nome da nossa amizade.
Há mais de cinquenta anos, era comum as pessoas se comunicarem e expandirem suas amizades através das cartas, escritas totalmente à mão, seladas e depositadas nas caixas dos correios. Uma forma de contato, recheadas de expectativas, de trocas de informações, de ideias, ideologias, cartões postais, fotos, poemas, demonstrações puras de afeto, alegria e calor humano que eram depositados num simples toque, em papel timbrado ou não.
Assim aconteceram os meus primeiros contatos com pessoas de outros países. Amizades que povoaram meus dias e deixaram saudades.
Digitei na integra, fielmente, o conteúdo do poema tal qual me fora enviado com letra muito caprichada e com desenhos de serigrafia.
MEU SEMÁFORO.
O farol vermelho demorava.
Os motoristas começaram a impacientar-se
e logo todos estavam buzinando,
eu junto com eles.
Tenho encontrado muitos faróis vermelhos pela vida inteira.
Resolvi procurar a razão deles em meu íntimo
e encontrei meu trânsito impedido a muitas pessoas...
- pela mania de achar que me devem;
- por achar que não me dão o devido valor;
- por estar sempre com o coração fechado;
- pelas mágoas, dos choques de relacionamento.
Tudo isto impedia minha circulação:
do sangue, dos negócios, de relações humanas!
Era como se levasse um semáforo vermelho
escondido de mim mesmo, mas que todos percebiam.
Hoje mantenho um guarda para o farol verde,
e descobri espaçosas avenidas
em que transito livremente,
Sem buzinar aos outros e nem a mim mesmo...
Isaac
Obrigada, Isaac. Abraço de sua amiga, Jandira.