PROCESSO BURROCRÁTICO

Um dia desses, tive de dar um aviso da minha mãe à minha irmã, que estava no colégio. Era um colégio de ensino médio conhecido na cidade por seu sistema de ensino qualificado e regrado, um sonho educacional.

Toquei a campainha do portão, um porteiro cheio de sorrisinhos cumprimentou-me com um bom dia.

— Bom dia! — eu respondi. — Preciso dar um aviso à minha irmã, para onde devo me dirigir?

— Primeiro, registre-se na secretaria. É só entrar na terceira porta à esquerda, pegar a senha de atendimento e aguardar a sua vez.

Segui a orientação do porteiro, já não entendendo o porquê de me registrar. Quando lá cheguei, peguei a senha, nem tinha tanta gente para ser atendida. Quando chegou a minha vez, expliquei o motivo de minha visita à secretária.

— Identidade e número do CPF, por favor! Ah, e assine aqui.

Sem questionar, o fiz. Então ela, inexpressiva, disse-me que o registro evitava ação futura de estranhos mal intencionados. Sabe como é, ensino médio, juventude... Eu entendi, enfim.

Depois ela me orientou a procurar por algum coordenador de sala na sala de coordenação, que eu soube ser seis, devido ao grande contingente de alunos. Quando lá cheguei, fui atendido por um dos coordenadores, que com muita gentileza me perguntou em qual série e sala minha irmã estudava. Dada as informações, ele me pediu desculpas, porque não poderia me atender, já que era coordenador de outro setor de salas. Mas para não me deixar na mão, mostrou com muita gentileza a coordenadora do setor de salas da minha irmã — que estava para atender mais duas pessoas antes de mim — e ofereceu um banco para me sentar.

Esperei alguns minutos mexendo no celular, quando a coordenadora do setor de salas da minha irmã interrompeu-me.

— Eu quero dar um aviso para uma aluna do primeiro ano, sala F - eu logo disse.

— O seu nome completo e nome da aluna completo, por gentileza.

Dei ambos os nomes, quando a coordenadora me deixou sozinho por um instante e depois apareceu com um caderno de anotações e uma caneta compactor na mão.

— Registre aqui, sucintamente, o aviso, a natureza do aviso e o remetente. Além de seus dados, é claro.

Ainda sem entender, o fiz como ela pediu.

— Agora preciso de duas cópias de seu RG e CPF.

Entreguei os meus documentos, no que a coordenadora deu meia volta, entrou na sala da coordenação, imprimiu duas cópias e voltou explicando o motivo das xérox.

— Por questões de segurança, a escola precisa ter um controle de quem entra e sai. Você sabe o que tem ocorrido ultimamente nas escolas, não é?

Ao responder que sim, a coordenadora explicou-me que as duas cópias seriam enviadas para a secretaria junto com a folha onde registrei o aviso, a natureza do aviso e o remetente. Além disso, um ofício de solicitação foi enviado junto com os outros documentos. Eu quis perguntar se aquilo ia demorar, mas receei. A cara enjoada da coordenadora não me pareceu muito receptiva. Importuná-la com perguntas idiotas poderia... Bem, deixa quieto.

Dez minutos depois, os documentos retornaram com o selo de autenticação e o aval de liberação, que a coordenadora pediu para eu ler em alta voz para saber se eu concordaria com os termos. Eu li sem prestar atenção a porra nenhuma, mas disse que concordava sim.

— Ótimo, porque agora precisamos de uma testemunha que o conheça.

— Mas...

— Não se preocupe, pode ser qualquer aluno que more na mesma localidade que ela, já que ela é do interior, não é?

Chamaram uma amiga da minha irmã, que foi questionada se me conhecia. Ela disse que sim. A aluna foi orientada a aguardar enquanto a coordenadora dirigiu-se à sala de minha irmã.

— Primeiro, o professor em sala terá de assinar um termo de liberação — disse-me a colega da minha irmã —, que será levado pra secretaria para autenticação. Então a coordenadora retorna com o documento para a sala, o aluno lê um termo de ciência, assina, e vem acompanhado com o coordenador.

— Mas e você? — Perguntei. — Por que você ainda tem de ficar aqui?

— Para assinar o termo de conclusão do ato, ué! Que vai ser levado para a secretaria, aí a secretária vai mandar a ata para todos nós assinarmos.

Dito e feito como a menina me prescreveu.

Quando minha irmã chegou, eu comuniquei o aviso de mamãe na presença da coordenadora, da colega de minha irmã, e da secretária, que precisava ouvir cada palavra para registrar na ata.

Feita a ação, fui orientado a aguardar mais um pouquinho, enquanto a secretária solicitou o envio da ata para a Secretaria Municipal de Educação mediante acompanhamento de ofício. Dez minutos depois, a ata retornou com o selo de autenticação, além do aval de reconhecimento do ato concretizado.

Depois da leitura de ambos a ata e o aval, assinei a papelada, que foi levada para a secretaria. As alunas foram encaminhadas para as suas salas, e eu...

— Ao sair, não se esqueça de assinar o horário de entrada e saída na escola com o porteiro. Adorei conhecê-lo, senhor! Tenha um bom dia — disse-me a coordenadora uma última vez.

Dirigi-me à saída. Quando assinei os horários, só agora tinha me dado conta do enorme tempo que tinha gastado ali no colégio. E eu ainda tinha que pagar três contas, fazer umas compras e pegar a caixa de cosméticos de mamãe lá nos Correios, que havia chegado atrasada. Sinceramente, acho que preciso aprender a organizar o meu tempo toda vez que venho à cidade. Mamãe costuma dizer que sou irresponsável.

Finda as assinaturas e aberto o portão, o porteiro me disse uma última vez:

— A escola agradece muito a sua visita, senhor! Volte sempre e tenha um bom dia.

Ítalo DAbbreu
Enviado por Ítalo DAbbreu em 09/04/2018
Reeditado em 23/02/2019
Código do texto: T6304075
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