Os gostos mudam
Ainda bem que nossos gostos mudam. De quantas coisas não gostávamos que depois percebemos serem horríveis? Às vezes, sentimos até vergonha quando lembramos de filmes, livros, revistas e músicas que antes preenchiam muitas das nossas horas e vimos que tinham gosto bem duvidoso, senão sofrível. Bem, se um dia fomos capazes de acordar e perceber sua má qualidade, é porque nosso senso crítico e estético evoluiu. Assim, podemos nos sentir mesmo contentes porque já não gostamos das mesmas porcarias.
É ótimo saber que mudamos e que nossos gostos podem melhorar à medida que vamos nos transformando. Lembro de quando eu vibrava para assistir ao clássico Tubarão, de Spielberg. Amava aquela música, o suspense e as aparições do animal-vilão. Porém, com o tempo, fui vendo o absurdo: um animal irracional com inteligência humana, capaz de atacar deliberadamente embarcações e que tinha um apetite descomunal por carne humana. Depois que soube a verdade sobre os tubarões, passei a nem suportar ver esse tipo de filme.
Outros filmes que eu gostava eram os de faroeste, dos quais deixei de gostar depois de me dar conta de sua ideologia racista e colonialista, exaltando a cultura dos brancos e sempre vilanizando os índios. Após ler a história verdadeira e saber que os brancos foram os invasores que dizimaram tribos e culturas, fiquei mesmo com vergonha de pensar que gostava de ver brancos matando índios na televisão.
Devido a saber que já gostei de coisas erradas, não critico os gostos de ninguém, mesmo que sejam horríveis. A pessoa tem direito a gostar do que gosta mas, dependendo da ideologia do produto cultural que ela consome, acho-me na obrigação de dizer que ela não está apenas lendo ou assistindo a uma história, mas absorvendo ideias que podem ser muito erradas. Entretanto, como sabemos que as pessoas mudam, pode ser que um dia ela desperte.