Bela prisão

Lula está preso. Me somo a quem não queria que fosse assim. Mas não me somo com a força da ideologia de um partido. Tampouco me somo com energia para me defender de vitupérios eventualmente lançados. Me somo como brasileiro, como eleitor, como admirador; me somo até como quem lamenta não tê-lo visto aqui na minha Juiz de Fora – onde o líder esteve tantas vezes e, numa delas, o carro passou pertinho de mim, quando ele veio inaugurar um prédio na Universidade Federal.

Sempre gostei desse cara! Digo cara, porque ele é informal, é do povo, avesso a grandes formalidades, das quais, no íntimo, talvez ele risse. Quando presidente, eu me contrapunha a seus opositores e dizia que o homem tinha carisma e era também um grande animador da República. Levantava a autoestima do povo, sobretudo dos mais humildes.

Fui à urna, dei-lhe o meu voto, a minha confiança. Não me desiludi. Vi a educação valorizada. Vi negros nas universidades. Vi o carinho com as minorias. Vi seu jeitão leve de receber o pequeno e o grande. Vi como ele a cada a dia se aprimorava e, com seu fascínio, dava ao Brasil uma dimensão planetária. Por isso, acho também péssimo que achincalhemos o Lula – ele é uma marca brasileira internacional, ao lado de nossos grandes ídolos. Infelizmente, ocorreu o que todos sabemos. Não vou avaliar. Não vou julgar, mas perde o Brasil.

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Deram-lhe um dia para se apresentar. Um dia que virou dois. E ele teve direito a reza e a discurso longo. Nunca vi preso discursar para o mundo antes de ser recolhido. Foi o que aconteceu. Deram-lhe um palanque. E ele discursou com humor – sua marca registrada – e muita tristeza. Num dado momento, disse: “Eu falei para os companheiros, se dependesse da minha vontade eu não iria, mas eu vou ”, demonstrando bem a dimensão do quanto sofria. Uma pena!

Fez o certo. Não expôs seus companheiros, que o guardavam; preservou-os e entregou-se. Não fugiu, não nos desmoralizou como admiradores. Alguns companheiros o prenderam no sindicato, de onde não queriam deixá-lo sair. Sua prisão, triste como todas, acabou sendo bela. Lula foi a pé, vencendo os obstáculos do amor, e começou nova página de seu destino. Missão cumprida? Talvez não.