O cobrador
Uma pizza de peperonni! Eu exigi. A moça da cobrança me perguntou antes de me avisar que custava 47 pratas a pizza, se levaria eu mesmo ou se o motoqueiro era quem entregaria em minha casa. Tem casa não moça! Eu disse. Vou levar de graça porque agora eu só cobro e estão me devendo pizza de peperonni. Eu atirei nela depois de dizer isso. Bem na cabeça. Porque os motoqueiros do lado de fora, se aproximaram violentamente depois de me ouvirem dizer que levaria de graça. Eu tinha mais bala no revólver, pelo menos duas pra cada um daqueles caras. Não precisei usá-las, eles se afastaram assustados.
Eu queria comer pizza de peperonni com minha mãe. Na portaria do prédio que ela morava não me deixaram entrar. Não quis me identificar. Tem documento não seu moço, eu disse ao porteiro. Com todos os dentes ele sorriu, hilário, ele se divertia sorrimente. Não vai não, não tem permissão, respondeu. Pedi a ele que repetisse aquelas palavras, à fim de que saísse de dentro da sala, detrás do vidro blindado. Não vai não, repetiu sorrisonho, me ridicularizando. Dois tiros de baixo prá cima, palato perfurado, sangue esguichando, filme do Tarantino.
Mãe eu trouxe pizza de peperonni. Ela pegou os guardanapos e dois copos cheios de gelo. Quanto tempo eu não fazia aquilo! Comer e beber junto com a mãe. Todos aqueles anos trabalhando sem folga, pra pagar meu apartamento que com menos de uma década de construído já se achava em petição de miséria. Estão me devendo família, eu disse pra minha mãe. Ela sempre estará comigo, ao meu lado...não te falta amor meu filho. Lá fora ouvi o som das sirenes da polícia. Fui embora. Estes cretinos me devem fuga, pensei eu.
**baseado no conto de mesmo nome de Rubem Fonseca**