A TOALHA E O SABONETE
A TOALHA
E O
SABONETE.
Autor: Natal Fatimo Cardoso
.Os meninos chegaram fazendo grande algazarra entrou no banheiro e pegaram o sabonete com suas mãos.
Imundas, deixando o pobrezinho todo sujo.
.O sabonete estava horrorizado, passando de mãos em mãos, sem a delicadeza com que era tratado, quando Amélia o usava; aqueles porquinhos o estavam sujando todo, fora a bagunça no banheiro. Como Amélia, uma menina tão doce e meiga, podia ter irmãos, assim bagunceiros?
.A toalha também pendurada ali olhava horrorizada e torcia para que eles não tentassem se enxugar nela. Ela olhava para o pobre sabonete com pena, ele perdera sua cor rosa e já estava completamente marrom, de tanto os meninos o usarem. Os quatros entraram no chuveiro ao mesmo tempo, espirrando água para todos os lados, o pobre do sabonete era passado de corpo em corpo, quando pulou e foi cair nos pés de Amélia, que chegava naquele momento e ouvira a bagunça vinda do banheiro. Amélia disse: - Quem mandou vocês usarem meu sabonete? Olhem o que fizeram, o sujou todo, vocês têm de usar o sabão de coco, seus moleques! E parem de fazer bagunça, senão chamarei a mamãe. E saiu levando consigo o sabonete e a toalha.
.No quarto Amélia limpou o sabonete e o guardou na saboneteira. A toalha guardou na cômoda. Agora já mais calmo pensava o sabonete. Ufa! Pensei que era meu fim! Ô turminha da pesada! Ainda bem que Amélia apareceu e me carregou junto com minha toalha, ainda bem que eles não a sujaram, senão eles iriam ver uma coisa. Iriam ver o que? Eu sou apenas um sabonete, eles podem fazer de mim o que bem entenderem. Mas quando será que irei ficar junto de minha toalha? Tão bonita tão macia! Acho que nunca vou estar junto, eu sempre começo antes, eu lavo e ela enxuga assim nós nunca ficaremos juntos. Se pelo menos eu fosse um sabão de lavar roupa, eu poderia cair em seus braços, e nos esfregaríamos até eu me acabar.
.Ah! Meu Deus! Como será que está meu sabonete? Pensava a toalha, dentro da cômoda. Será que esta bem? Será que os garotos o machucaram? Quando será que vamos nos encontrar? Ele sempre trabalha antes de mim, assim nós nunca vamos nos encontrar se pelo menos ele fosse um sabão de lavar roupa, ele poderia me lavar, e poderíamos ficar juntos, faz tanto tempo que nos vemos e ainda não conseguimos nos tocar.
Lembro-me de quando estávamos nas prateleiras daquele supermercado, ficávamos de frente um para o outro, mas só reparei nele quando as outras toalhas me chamaram a atenção.
- Olha que sabonete bonitinho!
- Onde, perguntei.
- Ali, na nossa frente.
- Nossa, é mesmo!
E assim os dias foram passando, cliente para cá, cliente para lá, levava toalhas do meu lado e eu ia ficando, até que um dia entrou no mercado uma menininha, me pegou e saiu, olhei para trás e encontrei o sabonete triste.
Fazer o que? Isto um dia iria acontecer. Estávamos já no caixa, quando a mãe de Amélia disse.•.
- Filha, pegue um sabonete para você.
Amélia pegou exatamente o meu amado sabonete e assim fomos morar na mesma casa lavar e enxugar a mesma dona.
E assim o tempo passava, sempre era uma festa de manhã e a tarde quando Amélia tomava seu banho, levando a toalha e o sabonete. Era a hora de eles se verem, enquanto Amélia se ensaboava, a toalha ficava ali quietinha pendurada esperando sua vez. E quando ela se enxugava os dois se olhavam querendo se tocar.
.Um dia, Amélia esqueceu o sabonete na lavanderia, o sabonete olhou em volta e viu varias coisas diferentes entre elas caixas de sabão em pó, cândida, alvejantes e mais no canto estava um sabão de pedra, tinha uma aparência cansada meio desgasto pelo uso e de cor escura.
Olhou para o sabonete e disse.
- Acho que seu lugar não e aqui.
- É minha dona estava atrasada para a aula e me esqueceu de aqui.
- Se você continuar aqui, logo você será usado para lavar roupas, e eu garanto que você não vai gostar nada, nada, têm todas as roupas ásperas, jeans, tecidos de todos os tipos, a minha vida e muito infeliz e dificil, fico todo arranhado de tanto me esfregarem, veja como estou riscado.
O sabonete olhou para o sabão de pedra e disse.
- Eu só queria ter uma chance de esfregar uma toalha que eu gosto muito, eu iria ficar muito feliz, não me importaria se me riscasse ou me desgastasse, só queria ficar juntinho dela, ela é tão bonita.
- Meu filho, nós não podemos ter tudo que queremos, existe limites, e eles são desígnios de uma força maior, por maior que seja nossa vontade, temos que ter consciência de nossas limitações, você não está longe dela, existem muitas maneiras de amar, pode ser um olhar, um gesto, um compartilhar, e vocês já fazem isto.
Nesse momento chega à lavadeira com um monte de roupas sujas e joga sobre o sabonete.
- Ai, ai, vamos começar tudo de novo.
A empregada mexe para cá, mexe para lá, abre torneiras, pega baldes, mistura cândida, sabão em pó, depois sai deixando as roupas sobre o sabonete, que já estrava suando. Havia realmente roupas pesadas, outras brigavam entre elas. Nisso o sabonete sentiu um toque suave e vibrou de alegria, ali estava a sua toalha se esfregando nele. Nossa como ela era macia! Finalmente eles estavam juntos.
.Nesse momento volta à empregada e começa a separar as roupas, jogando as pesadas de um lado e as leves de outro. Ao pegar a toalha, levou junto o sabonete, os dois caíram na água, vagavam de um lado para outros felizes, pois estavam juntos.
.Eles sabiam que aquilo não duraria muito tempo, mas não se importavam, pois este momento jamais seria esquecido. E enquanto a empregada separavam as roupas, eles se divertiam.
Velho sabão de pedra sorria e pensava.
(É ele conseguiu ficar junto com seu amor, talvez no amor nada seja impossível).
FIM 7\02\96