Você era o Inverno

Uma vez você disse que não amava. Me disse que seu coração era frio e intransponível, que ninguém morava dentro. Você me disse que todos que se aproximavam saiam machucados, sangrando, clamando por misericórdia.

Eu sabia o que você estava fazendo; tentando me assustar com sua frieza e frigidez, assim como fizera com todos os outros. Sua mãe e seu pai o repudiavam, te expulsaram de casa assim que completou 18 anos e foi obrigado a achar seu caminho totalmente sozinho. As pessoas ao seu redor se afastam, temerosas com o gelo mortal que sua alma emana. E você é como a neve, que cai sobre as lindas flores e as mata, as seca, as sufoca. E todo mundo, ainda assim, acha a neve uma dádiva. Quantas pessoas não sonham em vê-la?

Não dói em você? Não reflete em si mesmo a dor que causa?

Uma vez você me disse que não amava, que mal notava a existência de seu próprio coração. Me disse que cortes e feridas não lhe davam pesadelos a noite e que cada grito dado não era seu.

Eu não entendia, e ninguém mais.

Como todos os outros, me afastei de você. Não porque me machucava ou sufocava, mas porque, no final do dia, eu sempre preferi o verão.