Sobre o mês de abril
Crônica de 1º de abril, 2018, para o jornal Correio de Russas
E chegou o mês de abril, que tomara seja de chuvas mil. Porém, parece que o nosso inverno está cumprindo os sete anos das vacas magras que segundo a Bíblia, aconteceu no Egito. Ainda bem que por lá, sem as tecnologias que dispomos, pelo menos havia um intérprete para o sonho, porque por aqui, com todas as parafernálias, os governantes não sonham, e, já não existe mais intérpretes de vergonha e de verdade. O acontecimento bíblico teve o decifrador José, que avisou a Faraó que viriam sete anos de fartura e em seguida, sete anos de estiagem. E nós? já estamos entrando na casa dos sete, que é número de mentiroso, mas a coisa é verdadeira. E agora José? Sabemos que sem chuva, dependemos dos açudes, e para se encher açudes, precisamos de chuva ou da tão esperada transposição... aguardemos!
Abril chegou com a sua cara de mentira, e coincidindo com a Páscoa Cristã. Sobre Páscoa todo mundo já sabe, pois vê os chocolates enfeitando os supermercados. Mas sobre o dia da mentira quem sabe? Segundo eu soube, essa data teve início na França: é que o ano novo para eles, era festejado entre 25 de março a 1ºde abril, mas, em 1564, com a adoção do calendário Gregoriano, o Rei Carlos IX de França determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1º de janeiro. Então, alguns franceses resistiram à mudança, e passaram a fazer brincadeiras como que querendo manter o festejo na data de abril. Naturalmente, a maioria via que eles estavam insistindo numa farsa, e a coisa foi ficando como o dia da mentira.
Se existe o dia para a inverdade, bem que devia existir o dia da verdade. Mas quando seria comemorada a verdade nua e crua, no Juízo final? Que os teólogos e seus preceitos respondam por mim... me volto para a minha modesta crônica. Se há o dia da mentira, então suponho que todos os outros dias devem ser dias da verdade. Contudo, parece que nesses tempos de cibernética, a mentira adquiriu mais força do que a sua opositora, as fake news que o digam. As mentiras estão por toda parte e tanto servem para se fazer crescer a fama, como para se jogar na lama, celebridades de quaisquer áreas, e até promover conflitos armados, que como diz o ditado: Em tempo de guerra, mentira por ar e por terra.
Que abril seja bem-vindo, e que seja melhor do que março que passou, que a chuva venha, que a violência se acabe, e que tudo isso seja verdade antes que seja tarde! E a mentira em seu único e mísero dia, seja somente uma brincadeira inocente e não se apresente aterradora, como a filha do capeta.
Agamenon Viana é músico, membro da Academia Aracatiense de Letras e colunista do jornal Correio de Russas.